Um pé no acelerador, OUTRO NO FREIO
Produção de TVs elevou o desempenho do setor, que cresceu em 2017, mas puxou o freio neste ano por causa da greve dos caminhoneiros
Osetor de bens de consumo surfou a onda de recuperação da economia em 2017, mas uma série de fatores brecaram seu crescimento neste ano. Na última medição feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em fevereiro, a produção de bens de consumo duráveis registrava um índice de 15,6% em relação a fevereiro do ano passado. Dentro da categoria de bens de consumo duráveis, que abrange o segmento de eletroeletrônicos e o setor automobilístico, um dos destaques ficou por conta da alta na produção de televisores. Considerando todo o setor de eletrodomésticos da chamada linha marrom, composta por televisores, aparelhos de som e similares, o aumento em fevereiro foi de 41,1% ante o mesmo mês do ano passado, muito em razão da demanda esperada para a Copa do Mundo.
A pesquisa indicou que essa melhoria veio de fatores como aumento da massa salarial, avanço gradual nos índices de ocupação e redução das taxas de juros do comércio. De acordo com o sócio da A.T. Kearney Brasil, Esteban Bowles, o ano passado foi de recuperação depois de dois ou três anos de queda, tanto no mercado de bens de consumo como no varejo. “Em linhas gerais, foi uma recuperação positiva. O segundo semestre foi melhor, com um cenário mais otimista e nível de confiança maior. Tudo isso puxado por alguns elementos importantes, como a desaceleração da inflação, a redução da taxa de juros e do desemprego”, explica, lembrando que essas três condições levaram a um aumento no consumo em geral.
Bowles reforça ainda o desempenho do setor de cosméticos, higiene e beleza. “O Brasil é hoje o quarto maior mercado do mundo para esses produtos, perdendo apenas para Estados Unidos, China e Japão. É um setor dinâmico e conhecido pelo lançamento de novas linhas e por trabalhar bem em diversos canais de vendas” diz, lembrando que o desempenho varia de acordo com o setor e que os bons resultados não se repetiram, por exemplo, nos setores de móveis, livros e lazer, que continuam em queda.
DESAFIOS E RESULTADOS
Bowles acredita que 2018, apesar da recuperação, continua sendo um ano desafiador, principalmente em virtude do impacto da greve dos caminhoneiros na economia como um todo. “A greve trouxe um impacto de R$ 15 bilhões a R$ 30 bilhões para o País, representando uma queda de 3% no PIB em maio”, diz.
Por esse motivo, houve queda no varejo nos meses de maio e junho, o que também empurrou as expectativas da indústria para baixo. “Pode haver um crescimento em receita, mas ainda abaixo dos planos esperados no início do ano”, prevê. Sobre as possibilidades de crescimento no segundo semestre, Bowles afirma que elas serão contaminadas pela incerteza do clima político, que atrapalha os planos de investimento da indústria, por exemplo. “Os executivos ainda aguardam mais clareza. Será um segundo ano de recuperação, mas com crescimento de um dígito, uma recuperação tímida tanto para o varejo como para a indústria”, acredita.
O Brasil é hoje o quarto maior mercado do mundo para produtos de beleza, higiene e cosméticos, perdendo apenas para Estados Unidos, China e Japão