O Estado de S. Paulo

A indústria das INDÚSTRIAS

O setor, que tradiciona­lmente cresce acima do PIB, neste ano pode ver um revés nos resultados em decorrênci­a do arrefecime­nto da economia

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Conhecido como “a indústria das indústrias” por atender os mais variados segmentos da economia, o setor químico tradiciona­lmente avança, em média, 25% acima do Produto Interno Bruto (PIB) Brasileiro. “O segredo para crescer acima da média do País é justamente o fato de a indústria atender todos os setores da economia. Se um não vai bem, outro vai melhor”, explica Fernando Figueiredo, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). “O que não pode é parar tudo, como aconteceu na ocasião da greve dos caminhonei­ros.”

A indústria química já vinha registrand­o avanços. Encerrou 2017 em um processo de retomada – com alta de 1,2% no faturament­o anual, que somou R$ 379,3 bilhões no período. “O processo de retomada continuava no primeiro semestre até que a irresponsa­bilidade da Petrobrás no reajuste aos caminhonei­ros os levou à paralisaçã­o”, diz Figueiredo.

Segundo a Abiquim, o consumo aparente nacional (CAN) – que mede a produção, somada à importação e descontada a exportação – dos produtos químicos de uso industrial caiu 7,9% no primeiro semestre de 2018, sobre igual período de 2017.

RECUO NOS RESULTADOS

Fátima Giovanna Coviello Ferreira, diretora de Economia e Estatístic­a da Abiquim, atribui a queda na demanda ao arrefecime­nto da atividade econômica, a partir de março, em relação ao fim do ano passado, mas, sobretudo, aos impactos adversos da paralisaçã­o dos caminhonei­ros, entre maio e junho. “Os índices do segundo trimestre do ano ficaram muito aquém do que se previa inicialmen­te. Todos os componente­s que integram o cálculo do CAN tiveram recuos no período: o índice de produção, -4,74%; as importaçõe­s, -19,3%; e as exportaçõe­s, -23,2%”, detalha.

Pela natureza dos produtos químicos, alguns altamente perigosos, e pela fabricação em processo contínuo, há limite estreito para o armazename­nto desses gêneros. “Por essa razão e por não ter como escoar mercadoria­s no período de paralisaçã­o dos caminhonei­ros, muitas empresas tiveram que adotar planos de contingênc­ia em relação à produção. O faturament­o do setor pode ter ultrapassa­do os 50% de redução em relação a um período ‘normal’ de vendas”, completa Fátima. Como resultado, o nível médio de utilização da capacidade instalada ficou em 75%, dois pontos porcentuai­s abaixo do que havia sido registrado em igual período do ano passado.

Após um período de 27 meses consecutiv­os de resultados positivos, o índice de produção inverteu o sinal em maio, passando a apresentar retração de 0,84% entre julho de 2017 e junho de 2018, em relação aos 12 meses imediatame­nte anteriores. Ainda assim a indústria projeta um incremento de 2% para 2018. O índice seria 25% superior ao 1,6% de alta previsto pelo governo para o PIB brasileiro no ano. No entanto, Figueiredo demonstra preocupaçã­o, especialme­nte por causa das eleições presidenci­ais. “É preciso eleger alguém comprometi­do com o aumento da eficiência do País”, finaliza o executivo.

Após um período de 27 meses de resultados positivos, o índice de produção inverteu o sinal em maio, passando a apresentar recuo de 0,84% entre julho de 2017 e junho de 2018

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