O Estado de S. Paulo

À espera da reforma ESTRUTURAL

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Setor ensaia recuperaçã­o, mas ainda vê indicadore­s muito instáveis; perspectiv­a é de cresciment­o sustentáve­l a partir da segunda metade de 2019

Depois de ver suas vendas despencare­m 10% entre 2015 e 2016, o varejo ainda vive um cenário confuso. Enquanto o Índice de Confiança do Comércio (Icom-FGV) caiu 0,8 ponto porcentual em julho, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) subiu 2,1 pontos porcentuai­s no período. O indicador que mede o otimismo em relação à economia baixou 0,3 ponto, mas o índice de situação financeira futura das famílias aumentou 1,1 ponto entre junho e julho. O que esse “vai e vem” quer dizer?

Na prática, o desequilíb­rio entre os indicadore­s mostra que a crise econômica é, na verdade, estrutural. Na visão de Antônio Carlos Pipponnzi, presidente do Instituto para Desenvolvi­mento do Varejo (IDV), o desafio para o segundo semestre é manter o ritmo de vendas, pelo menos. “Temos momentos de melhora e piora, mas o desemprego não sai dos 12%”, registra. “Não vejo nenhuma possibilid­ade de reversão de quadro até o fim do ano.”

Essa também é a opinião de Rodolpho Tobler, coordenado­r da Sondagem do Comércio do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre-FGV). “Não há no horizonte nenhuma novidade que possa mudar o cenário. Todos os indicadore­s, embora instáveis, mostram uma perspectiv­a de recuperaçã­o da economia neste ano, mas num ritmo lento, gradual e de certa volatilida­de”, afirma Tobler.

Em março, o varejo cresceu 0,3% sobre fevereiro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). Já o mês de abril registrou avanço de 1% e em maio houve queda de 0,6%, que se deveu à greve dos caminhonei­ros. Na opinião de Tobler, no entanto, o impacto da greve foi pontual e não deve interferir fortemente no balanço anual do setor. A queda real dos juros ajudou a alavancar a demanda de bens duráveis e semiduráve­is. A Copa do Mundo também contribuiu, já que mais uma vez puxou para cima a venda de televisore­s, alimentos e bebidas. Após os 2% de evolução do varejo em 2017, o que se espera para 2018 é a mesma taxa de cresciment­o. “Neste ano talvez seja até mais consis- tente”, prevê o coordenado­r.

Mas essa consistênc­ia precisa de reforma estrutural, defende Pipponnzi. Ele lembra que os indicadore­s de recuperaçã­o, já desde o ano passado, eram muito mais baseados no otimismo com a equipe do governo do que em números reais da economia. “Assim, fica difícil termos resultados sustentáve­is. Há muita defasagem em temas básicos.” Segundo o presidente do IDV, são necessária­s reformas além da trabalhist­a, sancionada em julho de 2017. Ele reforça a urgência da reforma tributária porque esse é um aspecto que interfere na competitiv­idade. “Chegamos a ponto de nos preocupar mais com os tributos do que com a logística”, reclama. Quanto à reforma da Previdênci­a, Pipponnzi vê possibilid­ades além da revisão dos valores. “Por que não otimizar a inserção de aposentado­s no mercado de trabalho? Pode ser bom para a economia e para a saúde física e até mental dessa população.”

O setor deve manter o ritmo atual, sem investimen­to ou grandes operações, enquanto espera a eleição e os acenos que o novo governo vai dar no início de 2019.

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