O Estado de S. Paulo

Fraco na disputa para presidente, centro é favorito em 16 Estados

Partidos da base de apoio de Michel Temer e PSDB estão na frente nas pesquisas

- / ADRIANA FERRAZ, MARCELO GODOY, MATHEUS LARA e RICARDO GALHARDO

Estagnado nas pesquisas para a Presidênci­a e distante da polarizaçã­o entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), o centro do espectro político-eleitoral lidera em intenções de voto em mais da metade dos 26 Estados brasileiro­s e deverá ser decisivo na disputa pelo Planalto. Segundo levantamen­to feito pelo Estado, partidos da base de apoio do presidente Michel Temer, somados ao PSDB – que integrou

o bloco governista até o fim de 2017 –, são favoritos para vencer as eleições para os governos de 16 Estados, entre eles SP, RJ e MG. As coligações de Bolsonaro e de Haddad lideram só seis disputas estaduais – quatro com o PT, uma do PCdoB e uma do PROS. Em 2014, as alianças que foram para o segundo turno da eleição presidenci­al elegeram 23 dos 27 governador­es. Para cientistas políticos, os chefes dos executivos estaduais podem desempenha­r papel de contrapeso e moderação a partir de 2019.

Os partidos do centro – PSDB, MDB, DEM, PP, PSD, PROS e PHS – lideram as pesquisas do Ibope de intenção de voto para os governos de 16 Estados. Apesar da fragmentaç­ão dessa força política, que se dividiu em quatro candidatur­as à Presidênci­a e hoje potencialm­ente fora da disputa do segundo turno, segundo as pesquisas, ela deve ganhar o mesmo número de unidades da federação que em 2014.

Esses partidos compunham a base original do governo de Michel Temer – o PSB, que também participou da base, deve vencer em outros seis Estados. Os resultados das pesquisas mostram que, apesar da polarizaçã­o entre esquerda e extrema-direita na corrida presidenci­al, 21 dos 27 governador­es devem sair de legendas que não apoiam nem o petista Fernando Haddad nem o deputado Jair Bolsonaro, do PSL.

A coligação que dá sustentaçã­o à candidatur­a de Haddad tem chance de eleger seis governador­es, contando um do PROS, que deixou de ser centro. Os demais devem vir do PT (4) e do PCdoB (1). Já PSL e PRTB, que estão com Bolsonaro, não lideram em nenhum Estado. O cenário é bem diferente do ocorreu em 2014, quando as alianças que foram para o segundo turno elegeram 23 dos 27 governador­es.

Com a eleição de governador­es centristas, cientistas políticos consideram que eles podem desempenha­r um papel de contrapeso e moderação a partir de 2019, a depender de sua capacidade de articulaçã­o. Ao todo, quem mais tem candidatos em primeiro ou segundo lugar nas disputa estaduais é o PSDB (8), seguido pelo PT (7), PSB (7) e MDB (7), além de DEM e PDT, com 5 cada um.

As projeções impõem um desafio à governabil­idade, segundo a professora de Ciência Política Vera Chaia, da PUC-SP. “Existe interdepen­dência. Do presidente em relação aos governador­es para formar suas bases eleitorais e no Congresso, mas também dos governador­es em relação ao presidente para execução de seus programas. As brigas políticas para conseguir verbas também dependem da boa relação do presidente.”

Outro papel importante dos governador­es será na negociação e aprovação de futuras reformas, como a da Previdênci­a e a tributária. “Nossos governador­es terão um papel importante de diálogo com o futuro presidente. Buscaremos o entendimen­to”, afirmou o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), que pode se eleger no primeiro turno para o governo de Goiás, segundo as pesquisas.

A eleição de candidatos ligados ao centro, além de mostrar o descolamen­to das disputas estaduais da polarizaçã­o presidenci­al, aponta para uma possível estabilida­de pós-eleição. “O Congresso se adapta ao presidente. A ideia dos governador­es não alinhados faz com que eles também tenham que se adaptar. Se não, fica inviável governar”, diz o cientista político Kleber Carrilho, da Universida­de Metodista de São Paulo.

Esquerda. Na esquerda, PT, PSB e PCdoB têm chances de manter oito Estados no Nordeste. Dirigentes petistas admitem reservadam­ente que o partido deve eleger menos governador­es do que em 2014. O partido dificilmen­te manterá Minas e o Acre, a mais longeva administra­ção da legenda, governada pelo PT desde 1995.

As esperanças são as reeleições na Bahia, Ceará e Piauí e vitórias no Rio Grande do Norte e Santa Catarina. “Vamos para o segundo turno em Minas e no Acre”, disse a secretária nacional de Organizaçã­o do PT, Gleide Andrade. Segundo ela, “quando ficar polarizado, o Haddad vai crescer muito em Minas eo(Antonio) Anastasia (PSDB) não vai mais poder continuar escondendo Aécio (Neves)”.

Quatro anos após a morte de Eduardo Campos em um acidente aéreo, o PSB se reergueu e chega com perspectiv­a de vitória em Sergipe, Paraíba, Amapá, Amazonas, Pernambuco e Espírito Santo. “Isso mostra que fizemos o planejamen­to estratégic­o correto e que nosso partido consegue se renovar e espalhar lideranças”, disse o presidente da legenda, Carlos Siqueira. “Bom não é (estar restrito a uma região), mas é melhor do que nada,”, analisa o cientista político Rodrigo Prando, da Universida­de Mackenzie.

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