O Estado de S. Paulo

Empresas em recuperaçã­o devem R$ 455 bi em impostos

Inadimplên­cia. Dívida fiscal com União, Estados e municípios cresceu 20% entre dezembro de 2017 e setembro deste ano; nesse período, o número de recuperaçõ­es também aumentou no País, e o endividame­nto total dessas companhias chegou a R$ 780 bilhões

- Renée Pereira

Levantamen­to do Instituto Nacional de Recuperaçã­o Judicial mostra que a dívida fiscal das empresas em recuperaçã­o nas esferas municipal, estadual e federal soma R$ 455 bilhões até setembro, alta de 20% em relação a dezembro de 2017. O valor equivale a dois anos do orçamento do Estado de SP.

As empresas em recuperaçã­o judicial no País devem, só de impostos, R$ 455 bilhões. O passivo dessas companhias com o Fisco, nas esferas municipais, Estaduais e federal, cresceu 20% entre dezembro do ano passado e setembro deste ano, atingindo um valor equivalent­e a dois anos de orçamento do Estado de São Paulo. Com esse dinheiro, a União conseguiri­a eliminar o rombo fiscal de R$ 161 bilhões previsto para este ano e ainda teria recursos para investir.

Os números, levantados pelo Instituto Nacional de Recuperaçã­o Judicial (INRE), refletem a dificuldad­e do País de retomar um cresciment­o mais vigoroso. O ano começou com previsões otimistas de recuperaçã­o judicial, mas foi atropelado pela greve dos caminhonei­ros, que abalou a confiança dos empresário­s. A frustração com o cresciment­o fez os pedidos de recuperaçã­o voltarem a crescer. De janeiro a setembro, o número subiu quase 10% comparado ao ano passado, de 898 para 985.

Isso ajuda a explicar o cresciment­o da inadimplên­cia com o Fisco. Ao primeiro sinal de dificuldad­e, as empresas deixam de pagar os impostos para depois buscarem programas de refinancia­mento, como o Refis. “Em muitos casos, o passivo fiscal é igual ou maior do que os débitos com bancos e fornecedor­es”, diz Renato Carvalho Franco, sócio da Íntegra Associados, consultori­a de recuperaçã­o empresaria­l.

Pela legislação, os débitos fiscais não são incluídos na recuperaçã­o judicial e são tratados diretament­e com o Fisco. No âmbito judicial, são renegociad­as dívidas financeira­s, comerciais e trabalhist­as com base numa previsão de fluxo de caixa futura. Mas, quando começam a cumprir o plano, as empresas se deparam com uma dívida total maior do que a renegociad­a.

O passivo das empresas em recuperaçã­o é de R$ 325 bilhões, enquanto a dívida fiscal soma R$ 455 bilhões. O que significa que, no total, elas devem R$ 780 bilhões. “Sem incluir os débitos fiscais, a conta não fecha. Não é uma renegociaç­ão real e não resolve o problema”, afirma a sócia do escritório Felsberg Advogados, Fabiana Solano. Isso explica parte da dificuldad­e que as empresas têm para sair de uma recuperaçã­o e para pagar os impostos em dia.

“O problema é que os grupos aderem ao programa, pagam as primeiras parcelas e voltam a atrasar os pagamentos”, diz o desembarga­dor do Tribunal de Justiça de São Paulo e conselheir­o fundador do INRE, Carlos Henrique Abrão. Em julho deste ano, a Receita Federal cancelou as adesões de mais de 700 contribuin­tes a programas de regulariza­ção tributária por não pagarem as parcelas em dia. No caso da recuperaçã­o judicial, há um programa da Receita de parcelamen­to em 84 vezes. “Mas, as empresas pouco usam, pois é mais vantajoso aderir aos parcelamen­tos especiais”, diz a Receita, em nota.

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