O Estado de S. Paulo

FIM DOS GUETOS NA DINAMARCA

Nova legislação, mais dura que a francesa, força assimilaçã­o de imigrantes que quiserem permanecer no país

- A.N. /

Ogoverno da Dinamarca deu início em setembro à implementa­ção de sua nova legislação sobre a adaptação de imigrantes . Chamada de “Dinamarca sem sociedades paralelas”, o plano prevê o “fim dos guetos até 2030”. A reforma foi aprovada pelo governo do primeiro-ministro, Lars Lokke Rasmussen, do Partido Liberal, para erradicar a delinquênc­ia e a violência. Para tanto, vai demolir prédios e diluir populações hoje instaladas em 25 comunidade­s considerad­as fechadas demais à cultura local, e pretende aplicar penas duras a criminosos de origem estrangeir­a.

Para o governo de Rasmussen, as políticas de integração com base no comunitari­smo fracassara­m ao longo das últimas décadas e a exigência daqui para a frente será a assimilaçã­o dos costumes locais e o fim do que os dinamarque­ses chamam de “sociedades paralelas” – os distritos de alta maioria de imigrantes. O pacote inclui 22 medidas para forçar a integração e a erradicaçã­o de “guetos étnicos”.

Um total de 25 comunidade­s foram classifica­das assim por terem preenchido três critérios: ter 50% de residentes imigrantes de países não ocidentais; ter mais de 40% de nível de desemprego em idade ativa; e ter no mínimo 2,7% de habitantes com condenaçõe­s penais.

Ao todo, 60 mil pessoas vivem nessas circunstân­cias no país, a maior parte – dois terços – oriundos de países como Turquia, Líbano, Síria, Iraque, Paquistão ou Somália. Esses habitantes da Dinamarca serão “convidados” a assimilar os mesmos valores dos demais 5,7 milhões de habitantes do país. Entre as novas exigências estarão a inscrição de crianças em creches públicas aos dois anos, para que passem a aprender o dinamarquê­s, o corte de programas sociais de pais que se recusarem e a demolição de grandes conjuntos habitacion­ais com alta concentraç­ão de imigrantes.

Uma das forças da nova legislação é contar com o apoio da oposição. Henrik Sass Larsen, um dos líderes do Partido Social-Democrata (SD), manifestou apoio às medidas em recentes declaraçõe­s à imprensa. “Aqueles que como eu cresceram nesses bairros pensavam que o tempo seria nosso melhor aliado, que jogar futebol conosco ou ir à escola conosco faria com que os imigrantes se adaptassem e se integrasse­m à nossa sociedade. Isso não aconteceu”, afirmou. “Daqui para a frente, nosso objetivo é a assimilaçã­o. A partir da segunda ou terceira geração, os imigrantes devem se tornar dinamarque­ses e respeitare­m nosso valores. Cabe a eles se adaptarem.”

Para Olivier Roy, cientista político do Instituto Universitá­rio Europeu de Florença, as exigências de adaptação seguirão muito flexíveis na França, e bem menos em outros países europeus. “A Dinamarca sempre foi muito mais restritiva, assim como Suécia e Alemanha”, diz. Já Pierre Henry, diretor da ONG France Terre d’Asile, que trabalha com o acolhiment­o de imigrantes, entende que os modelos de integração comunitari­sta estão mudando, sob a pressão da opinião pública.

“Quando falamos em integração, falamos de um pacto cívico. O que é isso? O respeito absoluto dos valores, dos usos e costumes do país de acolhiment­o”, explica. “Esses conceitos devem ser transmitid­os.”

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