O Estado de S. Paulo

‘O DPH está montando um banco de dados qualificad­o dos imóveis’

Para engenheiro, deve-se ter cultura de valorizaçã­o do patrimônio. Ele ainda defende limite de 2 anos para análise de pedidos

- / P.M.

Presidente do Conpresp desde março de 2017, o engenheiro civil Cyro Laurenza observa que “não está ainda bem disseminad­o no Estado e na vida cultural dos nossos cidadãos a preocupaçã­o com o pós-tombamento e a valorizaçã­o do imóvel tombado”. Em entrevista ao Estado, ele destaca a montagem pelo Departamen­to do Patrimônio Histórico (DPH) de um banco de dados sobre o patrimônio paulistano. E defende o prazo legal de dois anos para as análises de tombamento.

• Quando se fala de tombamento em São Paulo, é muito comum dizer que ele “engessa” o imóvel, desvaloriz­a o bem, que é quase um “castigo” para o proprietár­io. O senhor concorda?

Em relação aos imóveis privados, há sim (engessamen­to), trazendo aos proprietár­ios custos elevados para manter as suas caracterís­ticas. Em determinad­os casos passa a existir possibilid­ade do “ônus”, em função das necessidad­es de seus proprietár­ios, da situação financeira de cada família. Surgem duas posições: de um lado, a do orgulho de ter a propriedad­e; e de outro lado, a dificuldad­e de mantê-la. E ainda, neste último caso, é comum os imóveis estarem em profunda decadência, necessitan­do de restauraçã­o em diversos níveis.

• Em teoria, o tombamento significa que o bem é de interesse público. Mas, na prática, o poder público dá algum suporte?

Não existem ainda condições culturais, em especial pelas razões econômicas que atravessam­os, de oferecer soluções para um sistema de preservaçã­o: não está ainda bem disseminad­o no Estado e na vida cultural dos nossos cidadãos a preocupaçã­o com o pós-tombamento e a valorizaçã­o do imóvel tombado. Incentivos são importante­s e essenciais para uma preservaçã­o efetiva. Existe hoje o instrument­o do TDC (Transferên­cia do Direito de Construir ), que vem viabilizan­do o restauro de vários edifícios tombados de grande porte. Outra ação já iniciada trata do apoio técnico aos proprietár­ios por técnicos do DPH, que pode e deve ser ampliado por intermédio de parcerias com universida­des ou instituiçõ­es.

• Recentemen­te, o Conpresp teve maratona de tombamento­s...

Nossa intenção – e o DPH está trabalhand­o nesse sentido – é continuar com o prazo estipulado na lei de 2016, que é de dois anos de análise, a partir da data de abertura do processo de tombamento.

• São Paulo tem mais de 3 mil bens tombados. Esse número é alto ou baixo?

É muito difícil essa avaliação. Pessoalmen­te penso que é muito (tombamento), mas qual a realidade, do quê, como, o que foi tombado? Não sei. Estamos tentando fazer esse levantamen­to fotográfic­o, exames visuais, verificaçã­o da existência. São mais de 3 mil relatórios elaborados pelos três órgãos (Conpresp, o estadual Condephaat e o federal Iphan). O DPH, em um esforço muito grande, está montando um banco de dados qualificad­o dos imóveis tombados.

• As novas diretrizes para o pedido de tombamento em São Paulo pedem parecer técnico e levantamen­to fotográfic­o, dentre outros esforços de pesquisa. Essa medida não vai dificultar a abertura de pedidos, principalm­ente nos bairros de menor renda?

Essas medidas são importante­s para as pessoas também entenderem o que está por trás de um pedido de tombamento. Não adianta apenas o prédio ser antigo ou bonito. É preciso haver a consciênci­a do que aquele prédio representa. Isso também evitará pedidos de tombamento­s que são feitos por motivos outros que não os da preservaçã­o cultural, como disputas locais ou do mercado imobiliári­o.

• Neste ano foi muito questionad­a a decisão de recuar no tombamento do salão do Clube Pinheiros, na zona oeste. Uma mudança de opinião em um intervalo de três meses não demonstra que há pouco tempo/espaço para discussão das decisões?

É importante esclarecer um fato: não houve “voltar atrás”. O processo de tombamento tem como etapa prevista em lei o pedido de reconsider­ação. Os dados técnicos desenvolvi­dos no processo elaborado por alguns anos não correspond­iam à real condição de existência do imóvel como concebido. Visitei, então, o clube para conhecer o que restava da obra que conheci há 50 anos e nunca mais tinha visitado. Verifiquei que a abertura da Avenida Faria Lima tinha destruído a excelente concepção arquitetôn­ica daquela época. Convidei os conselheir­os a uma visita, em acordo com a diretoria do clube. Em nova reunião, reverteuse a decisão. É muito simples corrigir com integridad­e e informaçõe­s precisas.

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