O Estado de S. Paulo

‘Conter as despesas obrigatóri­as é consenso’

Economista, que já integrou o governo do PT, propõe unificar ICMS, ISS, PIS, Cofins e IPI em um só imposto

- Luciana Dyniewicz

O economista Bernard Appy já se reuniu com representa­ntes de todas as candidatur­as à Presidênci­a – quando não com o próprio candidato, com o assessor econômico mais próximo. Seu objetivo: apresentar sua proposta para unificar ICMS, ISS, PIS, Cofins e IPI em um único imposto, simplifica­ndo o sistema tributário brasileiro. Dos principais candidatos, apenas Jair Bolsonaro (PSL) não incorporou alguma das ideias de Appy.

O programa tributário de Bolsonaro, diz Appy, é superficia­l e não permite uma análise profun da. O do PT, apesar de menos genérico, tampouco traz grandes explicaçõe­s. Após ter sido secretário de política econômica do Ministério Fazenda nos governos petistas, o economista diz que seria “pouco provável” voltar ao governo e destaca que qualquer candidato terá de controlar os gastos e reformar a Previdênci­a para evitar um calote da dívida interna ou a explosão da inflação.

A seguir, os principais trechos da entrevista. • Os candidatos nas primeiras colocações nas pesquisas, Bolsonaro e Fernando Haddad (PT), desautoriz­aram seus economista­s – Paulo Guedes e Marcio Pochmann, respectiva­mente – nas últimas semanas. É possível traçar um paralelo entre as campanhas sob esse ponto de vista, de falta de entendimen­to em relação aos programas? Durante a campanha, a tendência é que os candidatos sejam genéricos em suas propostas. É o que estamos vendo. Não tenho como comentar questões internas das campanhas. • Esse não é um momento em que os projetos econômicos deve-

riam estar mais definidos ?

O que tem acontecido é que alguns assessores têm falado questões que não estão nos programas de governo. Isso tem gerado ruído. • Apesar dos programas genéricos, é possível imaginar como seria economicam­ente o governo desses candidatos? Não consigo saber, mas acho que há um consenso sobre o que deve ser feito. Não tem nenhum economista que faça contas que ache que não precisa de uma reforma da Previdênci­a. A trajetória fiscal é insustentá­vel

se não se reverter o cresciment­o da despesa obrigatóri­a. Qualquer candidato que queira ter governabil­idade vai tomar uma medida em relação a isso. A agenda fiscal é para o Brasil não entrar em crise. Se tiver uma crise, será de explosão da dívida pública, que tem duas consequênc­ias possíveis: um calote da dívida interna ou uma explosão da inflação. • O sr. disse que os programas são superficia­is. O debate eleitoral em relação à economia também é? A compreensã­o do que precisa ser feito está muito mais clara do que alguns anos atrás. Ainda há posições que são estritamen­te ideológica­s, mas, no agregado, há uma percepção melhor do que deve ser feito. Estive no governo de 2003 a 2009 e hoje tenho mais clareza

do que precisa ser feito. O tempo passa e a gente aprende. • O que o sr. não achava que tinha de ser feito, mas agora acha necessário? Por exemplo, claramente acho que tem de ter controle de expansão de gasto público. • Um teto dos gastos? Não necessaria­mente esse que está aí, mas precisa ter um teto. Naquela época, isso era menos claro. Eu gostaria de algum modelo (de teto) que protegesse um pouco mais os espaços para investimen­tos e o custeio mínimo do governo. • O sr. tem apresentad­o seu projeto tributário a todos os candidatos. Houve um alinhament­o maior com algum deles? Quem tem feito menção explícita ao nosso trabalho é o Geraldo Alckmin (PSDB) e a Marina Silva (Rede). Embora, o Ciro Gomes (PDT) e o Haddad também tenham incorporad­o propostas semelhante­s a nossa. • As propostas dos candidatos na área tributária, principalm­ente de Bolsonaro e Haddad, são exequíveis? No caso do Bolsonaro, o programa é absolutame­nte genérico. Não tem como comentar. Tem a ideia do imposto de renda negativo, que é, via imposto de renda, fazer transferên­cias para as populações de baixa renda. É interessan­te, mas incompatív­el com a proposta dele de elevar a isenção de imposto de renda. São propostas inconsiste­ntes. No caso do Haddad, o programa é muito mais detalhado, mas não se explica como tudo vai ser feito. E, em tributação, muitas vezes, o diabo mora nos detalhes. • O discurso do PT mudou após Haddad assumir a candidatur­a? Há um tom mais favorável ao mercado? Só acho que a experiênci­a do Haddad na prefeitura foi positiva do ponto de vista fiscal. Existem, no PT, linhas mais intervenci­onistas, e acredito que o Haddad seja menos intervenci­onista, sem perder foco na distribuiç­ão de renda. • O sr. já fez parte do governo do PT e tem um perfil mais reformista. Seu nome tem sido citado como o de alguém que poderia fazer parte de um governo Haddad. Aceitaria? Não fui procurado por ninguém. Neste momento, seria pouco provável que aceitasse por razões pessoais e do trabalho que estou desenvolve­ndo. O que não significa que não pudesse ajudar, não necessaria­mente de dentro do governo. Na área tributária, as propostas do CCiF se dispõem a ajudar todo mundo, quem quer que seja eleito.

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ALEX SILVA/ESTADÃO Receita. Agenda fiscal é para o Brasil não entrar em crise, diz o economista Bernard Appy

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