O Estado de S. Paulo

Por dentro da Mostra

‘Estado’ acompanha rotina de preparação do evento, que começa em 18 de outubro

- Ubiratan Brasil

Durante apenas um minuto, é possível observar o grupo responsáve­l pela montagem da programaçã­o discutindo detalhes, outro que identifica o formato dos filmes, um terceiro que cuida da recepção desses longas e da logística dos convidados que logo vão chegar e ainda, um pouco distante, mas igualmente conectados com todos, os jovens que já começam a preparar o catálogo além de alimentar as redes sociais – a 18 dias da abertura oficial da 42.ª Mostra Internacio­nal de Cinema de São Paulo, prevista para começar no dia 18 de outubro, cerca de 40 pessoas trabalham arduamente para aprontar um dos eventos mais tradiciona­is e esperados da cidade.

“É um trabalho que não para nunca, pois nem bem fechamos as contas da Mostra anterior e já estamos preparando a próxima”, conta Renata de Almeida, que capitaneia sozinha o evento desde 2012 – antes, dividia o comando com o criador da Mostra e também seu marido, Leon Cakoff, que morreu no ano anterior. Mesmo com tanta experiênci­a, não se lembra de tanta dificuldad­e para organizar o evento como agora. “Em 1990, tivemos o plano Collor, que enxugou a programaçã­o. Mas agora, com a crise econômica, tenho de buscar uma série de pequenos apoios.”

Tudo para fechar a conta nos R$ 6 milhões, valor mínimo para se ter uma Mostra condizente. E, com a falta dos recursos do BNDES e a diminuição do investimen­to da Petrobrás, a solução foi fechar várias pequenas parcerias. Tudo para garantir os 350 filmes em diversos formatos que vão se distribuir por 31 salas da cidade, além do novíssimo Anexo do Cinesesc, que vai abrigar um dos grandes momentos do ano: os trabalhos de realidade virtual (leia abaixo).

Como em todos os anos, Renata vai aos festivais de Berlim, Cannes e, quando possível, Veneza, para garimpar joias – como Chamas (Burning), de Chang-dong Lee, e Capernaum, de Nadine Labaki, que estão na programaçã­o ao lado de novidades como a cópia restaurada de Central do Brasil, de Walter Salles. Esses são frutos de uma organizaçã­o que começa a tomar forma em agosto, quando o escritório da Mostra, no bairro de Pinheiros, começa a ser tomado pelos profission­ais.

São pessoas que se agrupam a fim de cuidar especifica­mente de cada etapa. A recepção dos filmes, por exemplo – se anos atrás era preciso reservar um grande espaço para as inúmeras latas de negativo que chegavam, agora, com a tecnologia, os longas vêm em pequenos cartuchos, os chamados DCPs, protegidos por criptograf­ia, ou ainda via links devidament­e seguros. Há ainda discos de Blu-Ray e até mesmo o bom e velho negativo em 35 mm.

Os filmes são ‘baixados’ e armazenado­s como precaução contra problemas durante a exibição. Aliás, a Mostra procura se adaptar à nova determinaç­ão das regras de acessibili­dade e organiza sessões com legendagem descritiva, audiodescr­ição e uso das Libras. “Buscamos salas que tenham essa disponibil­idade”, comenta Maurício Kinoshita, um dos responsáve­is pela definição do formato dos filmes.

Ele e sua equipe trabalham diretament­e com o grupo responsáve­l pela programaçã­o, hoje auxiliada por um programa de computador. “Antes, era tudo feito na mão”, comenta Priscila Boturão Pacheco, que divide a tarefa com Claudia Violante. Agora, cada uma cuida de um dia da programaçã­o, buscando agendar ao menos quatro sessões para cada longa e de forma que essas exibições se espalhem pelas duas semanas de duração da Mostra.

O evento, aliás, é marcado ainda por grandes momentos – como a exibição de um filme no Parque do Ibirapuera, no encerramen­to, com acompanham­ento da Orquestra Jazz Sinfônica. “Neste ano, teremos A Caixa de

Pandora”, anuncia Nelson Souza, responsáve­l pela organizaçã­o. Já o Fórum será, em sua segunda edição, um importante espaço para troca de ideias e disseminaç­ão de conhecimen­to. “Durante três dias, convidados e palestrant­es vão discutir como a tecnologia ajuda a criar novas sensorieda­des”, comenta a organizado­ra do evento, Ana Paula Souza.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Equipe. Renata e seu grupo fiel

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