O Estado de S. Paulo

O príncipe ‘Hamlet’ para todas as idades

Atores mirins e Paulo César Pereio repensam clássico de Shakespear­e

- Leandro Nunes

Há muitos anos, a frase ‘Era uma vez em um castelo...’ podia transporta­r crianças para um universo mágico. Hoje em dia, muitos meninos e meninas querem pensar como sua realidade pode reinventar histórias. Um exemplo é Peça Para Adultos Feita por Crianças, que estreia no Espaço Parlapatõe­s neste domingo, dia 30.

O projeto da diretora Elisa Ohtake reuniu jovens atores oriundos de cursos de teatro para estudar a peça Hamlet, de Shakespear­e. “Procurei entre eles aqueles que demonstras­sem entusiasmo e fossem espertos.” Após escolher Davi Hamer, Felipe Bisetto, Joana Arantes,

Michel Felberg e Vitória Reich, o grupo mergulhou na tragédia do Príncipe da Dinamarca, que descobre que seu pai, o rei, foi assassinad­o e o trono tomado, injustamen­te, por seu tio. “Criamos uma série de jogos e as cenas foram feitas a partir do que cada um entendeu da peça.”

Há muitos momentos divertidos. Vitória lembra que, há alguns

anos, na versão infantil de Hamlet apresentad­a em sua escola, o rei não era assassinad­o. “Ele morria após uma crise alérgica, por comer um brigadeiro.” Já Vitória refaz a cena do Fantasma do pai do príncipe deslizando sob patins. Em outro momento, o grupo faz uma versão relâmpago da tragédia em 1 minuto. Não é spoiler dizer

que quando termina todos estão no chão. Quem completa o elenco é o veterano Paulo César Pereio. Ao contrário dos jovens, o ator faz a única cena de Hamlet que ele não entende. “Na minha carreira fiz essa peça uma vez. Mas nem tive tempo de terminar. Acabei sendo expulso do elenco”, brinca.

Outro ponto explorado é que a trama política criada por Shakespear­e – repleta de mortes e loucura ao redor do trono – aponta para o problema da ética presente na vida de todos. “Será que serei um adulto paciente?”, questiona Davi. “Será que serei um adulto que trata bem os outros, ou um adulto que sabe sonhar?”

Como eles declaram, a peça é um manifesto contra a chatice que a vida adulta é. “Eles questionam o futuro porque há exemplos na convivênci­a com adultos no dia a dia, em casa e na escola”, diz Elisa. Mais do que isso, a percepção das crianças sobre a obra do dramaturgo desperta um ponto de vista sobre a própria infância e como eles desejam conduzir suas vidas. “A gente ouve os adultos dizendo que é para a gente aproveitar a infância, mas logo eles nos perguntam o que queremos ser quando crescer”, dispara Felipe, que faz a cena da loucura de Hamlet, com direito a imitações de dinossauro­s.

 ?? NILTON FUKUDA/ESTADÃO ?? Com Pereio. Elenco recria cenas da obra do dramaturgo e questiona a ética da vida adulta
NILTON FUKUDA/ESTADÃO Com Pereio. Elenco recria cenas da obra do dramaturgo e questiona a ética da vida adulta

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