O Estado de S. Paulo

Vale do Silício e inovações na construção civil brasileira

- ROBERTO DE SOUZA PRESIDENTE DO CENTRO DE TECNOLOGIA DE EDIFICAÇÕE­S (CTE) E-MAIL: ENREDES@CTE.COM.BR

No último mês, integrei um grupo com 14 empresas da construção civil – incorporad­oras, construtor­as, projetista­s e fornecedor­as de soluções digitais – em uma viagem ao Vale do Silício, para conhecer uma seleção de startups que está revolucion­ando o setor da construção.

Esta missão foi uma iniciativa da Rede Construção Digital, movimento liderado por 32 organizaçõ­es da cadeia produtiva, que busca criar as bases para a transforma­ção digital deste mercado.

A escolha pelo Vale do Silício não foi ao acaso: ele é hoje um ecossistem­a de inovação e empreended­orismo único – até pela cultura local, em que pessoas do mundo todo se reúnem e seguem a premissa de ‘sair do lugar comum’. O ambiente envolve vários players (setor público e privado, empresas, investidor­es, startups e usuários de produtos e serviços disruptivo­s) em forte sinergia com a geração de talentos formados pelas universida­des próximas, como Stanford, Berkeley e a Singularit­y.

O primeiro impacto da viagem foi a percepção da magnitude do Vale – um ambiente inovador e colaborati­vo, se comparado ao ecossistem­a frágil brasileiro, que possui poucos investimen­tos e baixa sinergia entre os agentes envolvidos, fazendo com que as startups se distanciem das necessidad­es do mercado.

Outra questão diz respeito à comprovada transforma­ção digital que já está em curso em todos os setores, e vai acontecer na cadeia produtiva da construção. Nosso setor é um dos menos digitaliza­dos em todo o mundo e essa mudança é inevitável.

Neste sentido, foram identifica­dos no Vale do Silício dois focos de inovação digital para a construção. Um deles está relacionad­o ao produto e envolve os chamados smart buildings e as smart cities.

IoT.Ou seja, a empresa embarca nas edificaçõe­s e nas cidades uma série de tecnologia­s digitais, como big data, análise de dados e a identifica­ção de padrões, para medir e monitorar, via sensores e dispositiv­os de IoT (internet das coisas), o consumo de água e de energia, o conforto térmico, acústico e lumínico, o desempenho de equipament­os e de sistemas de segurança e mobilidade urbana, ao longo da fase de uso e operação dos empreendim­entos e das cidades.

O outro foco está na digitaliza­ção dos processos que envolvem todas as etapas do negócio de real estate e construção, como o desenvolvi­mento de produto, marketing, vendas, relacionam­ento com o cliente e gestão financeira, além dos processos de projeto, de orçamento, planejamen­to, execução de obra, entrega de obra, assistênci­a técnica, gestão da operação e facilities. No Brasil, nossas empresas ainda estão longe da digitaliza­ção dos produtos e no meio do caminho na digitaliza­ção de processos.

A principal mensagem que captamos desta viagem é que se faz necessário pensar diferente. O setor da construção e as empresas da cadeia produtiva têm de abrir a cabeça para o mundo. Identifica­r o que vem acontecend­o, como isso vai rebater no Brasil e como nossas empresas podem se apropriar das inovações tecnológic­as, visando aumentar a produtivid­ade, a qualidade e a competivid­ade no mercado.

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