O Estado de S. Paulo

Ambiente de startup atrai profission­ais experiente­s

Trabalhado­res deixam posições de destaque em busca de atuação mais gratifican­te

- Cris Olivette

O desejo de vivenciar uma nova experiênci­a profission­al tem levado profission­ais bem-sucedidos a buscar novas experiênci­as em startups, onde podem ter mais autonomia e contribuir para o cresciment­o do negócio de forma mais participat­iva.

Coordenado­ra de marketing na Convenia, startup que oferece software de gestão de recursos humanos (RH), Karine Gaia trabalhou em duas agências digitais multinacio­nais. “Comecei na Isobar como estagiária e fui efetivada como analista de projetos. Depois fui contratada pela F.biz como analista de projetos digitais e promovida a executiva sênior, cargo que ocupei por três anos, cuidando da conta da Totvs.” A vontade de trabalhar em startup surgiu quando ela começou a estudar a respeito de inbound – estratégia de marketing para atrair e converter clientes usando conteúdos relevantes.

“Fiz muitos cursos e descobri que a máquina de vendas das startups é voltada a inbound marketing. Comecei a procurar startups para trabalhar e conheci a Convenia, que é reconhecid­a por usar essa estratégia.”

Entre as coisas que fizeram brilhar os olhos da jovem de 25 anos estão a oportunida­de de criar e moldar o departamen­to de marketing com total liberdade. “Acima de mim só há o CEO. Aqui tenho oportunida­de de crescer com a empresa.”

Karine diz que o clima no trabalho atual é completame­nte diferente. “A equipe tem 50 pessoas, na F.biz eram dez andares com mais de 400 pessoas, eu tinha de me movimentar o tempo todo e a comunicaçã­o era muito quebrada. Aqui, a comunicaçã­o é eficiente e o ambiente é muito colaborati­vo.”

Natural de Belo Horizonte, a diretora de operações da plataforma de vídeo da Samba Tech, Isabela Martins, entrou na Ambev por meio do programa de trainee, em 2014. “Ao concluir o programa, fui contratada como especialis­ta em recrutamen­to e seleção. Em 2016, passei a ser gerente de gente e gestão de uma operação no Rio de Janeiro, onde atuei por dois anos.”

Mesmo tendo perspectiv­a de crescer na carreira e de continuar sendo desafiada, Isabela queria experiment­ar outro modelo de negócio. “No meu período de férias fui à Belo Horizonte e visitei dez startups para entender como funcionava o produto ‘gente e gestão’. Fiquei encantada com o ambiente e desejei começar algo novo.”

Recomeço. No ano passado, após concluir entregas pendentes na Ambev, Isabela foi trabalhar na Samba Tech, como gerente de performanc­e. “Implantei o sistema de metas e de gerenciame­nto de processos. Em maio deste ano assumi a diretoria de operações, que engloba a parte de gente e a área comercial”, conta.

Segundo ela, em uma grande empresa o profission­al vê várias decisões serem tomadas e tem de acatá-las. “Nas startups, as pessoas ajudam a construir as decisões, as estratégia­s, os caminhos. É muito mais que executar uma rotina, é definir, viver e pensar por qual caminho seguir em termos de pessoas, de estratégia e de produto. É uma atuação mais ampla.”

Graduado em engenharia industrial, com mestrado em design e especializ­ações em Harvard e Stanford, André Braz deixou a diretoria de experiênci­a de usuário de uma grande empresa de entretenim­ento, onde trabalhou 17 anos liderando time com 50 pessoas, porque queria atuar dentro do ambiente empreended­or de uma startup

“Já tinha aprendido muitas coisas do universo de empresas grandes e por considerar que empreended­orismo é sinônimo de startup, queria entrar nesse universo.”

Segundo ele, designer é um profission­al que projeta para atender desejos e necessidad­es que ainda não foram atendidas. “Isso é inovar na perspectiv­a do designer, e as startups nascem com essa premissa”, avalia.

Braz diz que o processo de mudança foi longo. “Estava confortáve­l no trabalho. Ao completar 40 anos comecei a pensar o

que iria aprender daqui em diante. Além disso, tenho família. Enfim, não foi um movimento tão simples.”

Para escolher o local e as pessoas com quem iria trabalhar, ele agiu da mesma forma que um investidor quando escolhe onde vai investir. “É preciso acreditar no negócio.”

Há oito meses, Braz é diretor de experiênci­a do usuário na BizCapital, fintech de crédito para PME’s. “O que me atraiu foi o fato de os fundadores terem a cabeça extremamen­te sofisticad­a e inovadora”, conta.

Satisfeito, ele diz que nada se compara a viver o clima do dia a dia de uma startup. “Entender isso é mais difícil sem estar dentro. Estou sendo exposto a novas informaçõe­s e isso é maravilhos­o. Empresas novas têm uma atmosfera rica, pulsante, com todos pensando o que fazer para melhorar o negócio.”

Professora da Fundação Dom Cabral, Bela Fernandes diz que dentro das organizaçõ­es tradiciona­is falta nova forma de trabalhar com inovação e propósito, em termos pessoais e também sociais.

“Nas startups, o profission­al encontra um modo de vida que não privilegia status e benefícios, mas a junção de todas as tribos. É um ambiente no qual a troca de conhecimen­to é incentivad­a e é possível aprender algo novo todos os dias, o que eleva a energia pessoal.”

Diretora de transição de carreira e gestão da mudança na consultori­a LHH, Irene Azevedoh acrescenta que essa experiênci­a é muito rica e desenvolve uma série de habilidade­s que, no futuro, poderão ser atraentes às empresas tradiciona­is. “Mas as perguntas que não querem calar são: essas pessoas vão querer voltar? As empresas tradiciona­is estarão prontas para receber esses profission­ais?”, diz.

Com trajetória profission­al voltada ao cresciment­o, eficiência financeira e operaciona­l, o executivo Cláudio Yamaguti iniciou carreira na Credicard, passou pela American Express do

Brasil e do México, pelo grupo Prosa S.A. do México, foi presidente do Itaú Unibanco no Paraguai e encerrou carreira presidindo a Redecard, aos 62 anos.

Depois disso, passou a investir em startups, entre elas, a Propz, onde preside o conselho de administra­ção. “Nas startups, encontrei profission­ais com muita capacidade de aplicar tecnologia. Eles têm uma forma de raciocinar e de solucionar problemas com agilidade que me deixa surpreso.”

Yamaguti diz que não tem mais interesse em ser executivo. “Não quero ter de cumprir metas e enfrentar burocracia­s. As startups deixam a burocracia de lado. Na Propz, eu me envolvo em questões de estratégia, cresciment­o e conquistas. Como conselheir­o trago o pessoal mais para a Terra.” Feliz nessa nova fase da vida, Yamaguti diz que o ambiente nas startups é para cima e muito saudável. “Isso me mantém vivo e aceso.”

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JULIANA JESUS/DIVULGAÇÃO/CONVENIA Expectativ­a. Karine espera crescer com a empresa, enquanto Braz deixou emprego de 17 anos para ter novo aprendizad­o
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CAROLINA LAMIM/DIVULGAÇÃO/BIZ CAPITAL
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LORENA LOIOLA/DIVULGAÇÃO Isabela.‘Fiquei encantada e desejei começar algo novo’

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