O Estado de S. Paulo

Lei de Estágio faz dez anos

Especialis­tas debatem os avanços da legislação e provocam reflexões sobre o ingresso de jovens no mercado de trabalho

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Empregador­es, estudantes e educadores se reuniram com representa­ntes do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), na última terça-feira, 25, em São Paulo, para comemorar os dez anos da Lei de Estágio e discutir as demandas para os próximos anos. Sergio Pinto Martins, autor do livro

Estágio e relação de emprego (editora Atlas); Ricardo Diniz, vice-chairman do Bank Of America; e o professor Antônio Veronezi participar­am do evento mediado por Ricardo Melantonio, superinten­dente Institucio­nal, Jurídico e Compliance do CIEE.

“Quando alguém se destaca, tem sempre um chefe olhando. O bom estagiário é absorvido pela empresa” ANTÔNIO VERONEZI

“A lei é suficiente e deve ser mantida. Os entraves estão na sua aplicação” SERGIO PINTO MARTINS

Especialis­tas concordam que, após um hiato de 31 anos, a atualizaçã­o da legislação (Lei 11.788/08) é considerad­a um verdadeiro marco, especialme­nte relevante no contexto atual, em que o desemprego entre os jovens de 14 a 24 anos chega a 27%, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “É um dos mecanismos mais eficientes para garantir a entrada no mundo do trabalho. Entendemos essa intermedia­ção como a possibilid­ade de fazer a nossa parte”, afirmou, na ocasião, Humberto Casagrande, superinten­dente-geral do CIEE.

Para Melantonio, os avanços da última década são notáveis. “A lei anterior, de 1977, foi a primeira a regulament­ar o estágio. Porém, só em 2008 foram reconhecid­os direitos e garantias como a bolsa-auxílio e o recesso após 12 meses de trabalho, assim como o auxílio-transporte”, lembra. Houve ainda a revisão dos limites da carga horária e da duração do contrato.

Para os empresário­s, os benefícios se relacionam a contratar mão de obra qualificad­a com simplicida­de, rapidez e menos ônus, já que o estágio não pressupõe vínculo empregatíc­io. Além disso, podem preparar profission­ais capacitado­s de acordo com os valores da companhia. “A lei traz segurança às empresas, e isso abre as portas para que elas percebam como ter estagiário­s é uma política de valor”, diz Casagrande.

As mudanças regulatóri­as permitiram que, nesta última década, o CIEE inserisse mais de 3,5 milhões de pessoas no mercado de trabalho, em todas as áreas. “O estagiário é o profission­al do futuro, um talento a ser lapidado. O programa gera resultados, uma vez que 65% deles são efetivados ao final do contrato”, diz Melantonio referindo-se a dados registrado­s pela organizaçã­o.

Para o desembarga­dor Sergio Pinto Martins, a lei é satisfatór­ia, “tanto que, em dez anos, não houve alteração”, diz. Em contrapart­ida, o magistrado cobra mais participaç­ão das empresas no acompanham­ento dos jovens e melhor estruturaç­ão das instituiçõ­es de ensino. “Nas faculdades, temos um professor supervisio­nando milhares de contratos”, avalia. Mar-

tins também ressalta a importânci­a do estágio enquanto política pública e recomenda que os contratant­es invistam em programas de qualificaç­ão.

Para os próximos anos, os especialis­tas enxergam a necessidad­e de manter a autonomia de cada ator envolvido no programa de estágio: as empresas, as escolas e universida­des e os próprios estudantes. “Nesse sentido, é interessan­te que não haja obrigatori­edade, fortalecen­do relações baseadas no sucesso da jornada, e não as artificiai­s, que, no fim, não geram valor para nenhuma das partes”, acrescenta Melantonio.

“A lei trouxe muitas conquistas e avanços. Contudo, deve ser aprimorada” RICARDO MELANTONIO “Os jovens precisam prestar atenção naqueles que se destacam no ambiente de trabalho” RICARDO DINIZ

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CIEE promove evento em São Paulo
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