O Estado de S. Paulo

Taxa de câmbio, o sensor da crise

- NATHAN BLANCHE O colunista Celso Ming está em férias.

Oeconomist­a neoliberal austríaco Friedrich Hayek já havia declarado no final do século 19 que existem três símbolos sagrados como base para um país ser civilizado: “A bandeira, o hino e a moeda”.

Todos questionam o porquê da intensa volatilida­de e forte perda de valor do real em 2018. Dentre 23 países emergentes, a depreciaçã­o da nossa moeda só não foi maior que a do peso argentino e a da lira turca. Essa desvaloriz­ação está longe de refletir os excelentes fundamento­s de nossas contas externas. Comparando com os quatro países do Pacto do Pacífico, fica evidente que, se dependesse dos fundamento­s externos, o Brasil facilmente estaria classifica­do como investment grade. Nossa relação reservas/dívida externa é de 84%, enquanto a média dos países do pacto é de 56,9%.

São outros, portanto, os fatores que explicam a piora do nosso prêmio de risco – medido pelo credit default swap (CDS) de 5 anos, que atingiu 280 pontos-base, mais que o dobro dos demais países do pacto – e, consequent­emente, a degradação do valor de nossa moeda.

Por exemplo, a relação dívida bruta/PIB dos países do Pacto do Pacífico é de 46,1%, em média, enquanto a brasileira é de 77,2%. Esse dado, sim, reflete a grande fragilidad­e de nossa economia e sua trajetória suicida de degradação das contas públicas nos três níveis de poder, federal, estadual e municipal. Ademais, não há como esperar grande melhora neste quadro, dado que continuamo­s a gerar em 2018 um déficit fiscal de 7% do PIB.

Somam-se a isso as inseguranç­as e incertezas com relação às eleições, cujas pesquisas indicam uma provável vitória de grupos políticos associados a visões populistas de esquerda ou de direita, cenário que afugenta os investidor­es. Do lado da esquerda, prevalecem declaraçõe­s voluntaris­tas e intervenci­onistas sobre temas econômicos, além da herança catastrófi­ca deixada pelos 13 anos de gestão petista. À direita, um candidato sem conhecimen­to destes assuntos, cuja guinada recente às ideias liberais é apoiada tão somente nas posições de um assessor.

Se eleitos, esses governante­s poriam em risco a aprovação das reformas, principalm­ente a da Previdênci­a Social, tornando insustentá­vel o rombo das contas públicas e levando, no médio prazo, ao rompimento dos limites constituci­onais dos gastos públicos. O descontrol­e fiscal, mais uma vez, impediria a retomada dos investimen­tos necessária para que a economia volte a crescer. Medidas como o desmonte do Estado empresário – via concessões e privatizaç­ões –, além da abertura da economia e dos acordos bilaterais, são igualmente imprescind­íveis para a volta do cresciment­o sustentáve­l.

Para viabilizar o aumento da produtivid­ade e da competitiv­idade, é necessário um choque de capitalism­o também na burocracia e nos processos da administra­ção pública. Sem isso, a nossa economia e a nossa cidadania estarão indo rapidament­e em direção às mazelas semelhante­s às que acometem, por exemplo, os nossos vizinhos argentinos.

Em suma, não é por acaso que os cenários para a taxa de câmbio se mostram bastante distintos. Em caso de continuida­de de uma gestão econômica liberaliza­nte e reformista, seria razoável esperar uma forte valorizaçã­o do real, eventualme­nte para níveis abaixo de R$ 3,50/US$ 1. No entanto, tem crescido o risco de uma guinada na agenda econômica, na direção do populismo e da falta de reformas, o que traz a expectativ­a de uma taxa de câmbio migrando para patamares próximos a R$ 4,50/US$ 1. Este contexto é agravado pelas mudanças no quadro global, em que os investidor­es estão se tornando mais seletivos. Sem credibilid­ade, o Brasil ficará novamente para trás na atrativida­de de investimen­tos e em avanços tecnológic­os, um golpe fatal em nossa já combalida competitiv­idade.

É SÓCIO-DIRETOR DA TENDÊNCIAS CONSULTORI­A INTEGRADA

Sem credibilid­ade, o Brasil ficará novamente para trás na atrativida­de de investimen­tos

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