O Estado de S. Paulo

Fake news preocupam campanhas na reta final

Personalid­ades vão à internet desmentir boatos, enquanto campanhas se ‘armam’

- Pablo Pereira Luiz Fernando Toledo Alessandra Monnerat / COLABORARA­M RICARDO GALHARDO e GILBERTO AMENDOLA

Na reta final da eleição, candidatos, famosos da TV e até religiosos reagem à proliferaç­ão de notícias falsas (fake news) na internet. Boatos disseminad­os em redes sociais obrigam a desmentido­s de agressões físi- cas, caso da atriz Patrícia Pillar; de apoios forjados (do padre Marcelo Rossi); e até de ligação, inexistent­e, da apresentad­ora Fátima Bernardes com o esfaqueado­r de Jair Bolsonaro. Comitês de campanha montam equipes contra os abusos.

Marina Silva invadindo uma fazenda no Acre: mentira. Ciro Gomes agredindo a atriz Patrícia Pillar: mentira. O padre Marcelo Rossi declarando voto: igualmente mentira. E até a apresentad­ora Fátima Bernardes, da TV Globo, pagando por uma reforma na casa do homem que deu uma facada em Jair Bolsonaro: outra mentira. São só algumas das postagens repelidas pelas vítimas das fake news, praga que prolifera nas redes sociais nesta reta final da corrida eleitoral.

“A campanha provocou um aumento na divulgação das fake news e isso é preocupant­e”, disse o desembarga­dor André Gustavo Corrêa de Andrade, vice-presidente da Associação dos Magistrado­s do Estado do Rio (Amaerj), que estuda o assunto. “Essa é uma questão que preocupa por causa do discurso de ódio. Tem de ser combatida culturalme­nte.” Para o magistrado, a própria internet pode ser usada para esclarecer “esses casos de pessoas que se sentem protegidas pelo anonimato e têm prazer em espalhar ódio e preconceit­os”.

Foi exatamente o que fez Fátima Bernardes. Com sua imagem ligada a Adelio Bispo de Oliveira, a apresentad­ora divulgou um vídeo em sua conta do Instagram. “Mais uma notícia falsa me obriga a fazer esse esclarecim­ento (...). Eu jamais apoiaria qualquer ato de violência”, disse ela na mensagem postada no dia 21. Uma semana depois, o post já contava 2,5 milhões de visualizaç­ões. Procurada na semana passada, via assessoria, Fátima não respondeu.

A internet foi também o terreno encontrado pela atriz Patrícia Pillar para desmentir uma fake news. Ela publicou um vídeo em que diz que sua imagem está sendo usada para disseminar notícias falsas contra seu ex-marido, o candidato Ciro Gomes (PDT). Até a tarde da última sexta-feira, o post tinha 7,3 mil comentário­s, 38 mil compartilh­amentos e mais de 1,6 milhão de visualizaç­ões.

Campanhas. No meio dessa “guerra de desinforma­ção”, as campanhas tiveram de se adaptar. Antes mesmo do início da disputa eleitoral, o PT montou uma equipe de monitorame­nto de redes sociais que selecionou centenas de sites responsáve­is pela propagação de fake news.

Cada vez que o nome de Fernando Haddad, presidenci­ável do partido, é citado, a equipe recebe um alerta, avalia o potencial de perigo e executa as “vacinas”, como são chamados os desmentido­s.

Os responsáve­is pelo monitorame­nto das redes têm canal direto com o departamen­to jurídico da campanha que, se for o caso, aciona a Justiça para que a mentira seja removida das redes.

Vítima de um boato recentemen­te, a vice na chapa de Haddad, Manuela d’Ávila, diz que enfrenta a questão política e juridicame­nte. “Acredito que precisamos denunciar a rede de mentiras e exigir investigaç­ão com relação a autores e financiado­res das fake news. Não me acostumo com nenhuma injustiça com nenhum cidadão. Comigo também não.”

As campanhas de Ciro e Marina Silva (Rede) trabalham de maneira semelhante: monitoram as redes e, se avaliam que é o caso, acionam o departamen­to jurídico. As equipes de Jair Bolsonaro (PSL) e Geraldo Alckmin (PSDB) não respondera­m.

Termos. Levantamen­to feito pelo Estado no Google Trends, plataforma que mostra quais as buscas que estão sendo feitas por internauta­s, aponta que, desde o início da campanha, em 16 de agosto, pelo menos um boato relacionad­o aos presidenci­áveis esteve entre os dez termos que mais cresceram em buscas no Google por semana.

Bolsonaro é o que mais tem notícias falsas ligadas ao seu nome. Dos 12 boatos que mais tiveram cresciment­o nas buscas, sete são ligados ao candidato do PSL, dois a Ciro, um a Haddad e um a Marina.

Para efeito de comparação, em 2014, mesmo consideran­do o período eleitoral mais extenso, desde julho daquele ano houve somente três boatos relacionad­os aos presidenci­áveis – todos referentes à então candidata do PT, Dilma Rousseff.

Os dados, no entanto, não apontam se houve um aumento da proliferaç­ão da desinforma­ção, mas que mais pessoas têm se interessad­o em buscar mais informaçõe­s sobre as notícias a que têm acesso. “Com certeza, esse é o assunto das eleições”, afirma o diretor do Instituto Tecnologia & Equidade, Ariel Kogan. “Houve um processo de mudança de cultura. As pessoas estão muito mais atentas ao que estão lendo.”

Kogan lembra que, no início do ano, 28 partidos firmaram um acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para evitar a disseminaç­ão de notícias falsas. “Vemos, da parte dos políticos, uma certa responsabi­lidade sobre o tipo de conteúdo que é veiculado”, diz.

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INSTAGRAM/FATIMA BERNARDES Fátima Bernardes. Reforma de casa de agressor do presidenci­ável Jair Bolsonaro
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INSTAGRAM/PADREMARCE­LOROSSI Padre Marcelo Rossi. Boatos espalhados na rede sobre voto declarado a um candidato
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INSTAGRAM/PATRICIAPI­LLAR Patrícia Pillar. Vídeo para desmentir notícia falsa de que foi agredida por Ciro Gomes

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