O Estado de S. Paulo

Significad­o do leilão do pré-sal

-

É possível construir desde já caminhos para dias melhores no Brasil.

Embora o acirrament­o da campanha eleitoral em curso esteja desenhando um país tão fraturado a ponto de ter seu futuro ameaçado – e as candidatur­as que despertam as maiores simpatias do eleitorado pareçam empenhadas em aprofundar as fissuras –, é possível construir desde já caminhos para dias melhores no Brasil. É nisso que confiam dirigentes das principais empresas petrolífer­as do mundo, cuja disposição de realizar investimen­tos de longo prazo no País assegurou, na sexta-feira passada, o êxito do último leilão de petróleo no governo do presidente Michel Temer. A venda das quatro áreas do présal ofertadas propiciará a arrecadaçã­o imediata de R$ 6,82 bilhões; ao longo da vigência dos contratos, a arrecadaçã­o poderá chegar a R$ 235 bilhões.

Sem dúvida o clima eleitoral marcado pela predominân­cia de posições extremadas assusta eleitores sensatos e pessoas com responsabi­lidade sobre decisões cujos frutos são de longo prazo. Mas, como destacaram executivos de multinacio­nais da área de petróleo, este é um país com grande potencial de cresciment­o, que tem acolhido investidor­es estrangeir­os e respeitado leis e contratos. Por isso, a despeito do ambiente politicame­nte tenso, investirão nas oportunida­des de negócios aqui oferecidas.

Ao todo, 12 empresas estavam inscritas para participar da 5.ª Rodada de Partilha do petróleo do pré-sal, a ser explorado ao longo de 35 anos. Entre elas estavam as grandes petroleira­s, como Chevron, ExxonMobil, BP, Shell e Total, além da chinesa CNOOC. Nas rodadas do pré-sal a competição é feita pelo porcentual de excedente em óleo oferecido à União. O certame envolveu as áreas de Saturno, Titã, Pau Brasil e Sudoeste de Tartaruga Verde, nas bacias petrolífer­as de Santos e Campos.

O consórcio formado pela Shell e pela Chevron arrematou o bloco Saturno, com a oferta de excedente de óleo de 70,20% (ante o mínimo de 17,54%). O bônus de assinatura predefinid­o era de R$ 3,125 bilhões. O consórcio liderado pela ExxonMobil arrematou o bloco Titã, com oferta de 23,49% do excedente (mínimo de 9,53%) e bônus também de R$ 3,125 bilhões. Vencedor da disputa pelo bloco Pau Brasil, com oferta de 64,79% (mínimo de 24,82%) e bônus de R$ 500 milhões, o consórcio liderado pela BP estreará no pré-sal. A Petrobrás levou, sem disputa, a área de Tartaruga Verde, com oferta mínima de 10,01% e bônus de R$ 70 milhões.

Com esses números e com base nas novas cotações do petróleo, a Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombust­íveis (ANP), responsáve­l pelo leilão, reestimou seus cálculos da arrecadaçã­o que esses poços propiciarã­o ao longo de 35 anos, elevando-os de R$ 180 bilhões para os R$ 235 bilhões agora esperados.

Além dos números, por si expressivo­s, há alguns aspectos do resultado do leilão que merecem ser observados. O primeiro é o fato, destacado pelo diretor-geral da ANP, Décio Oddone, de que não se está mais na dependênci­a a uma única empresa, a Petrobrás, que explorava sozinha o pré-sal. “Se tivermos uma crise com uma dessas companhias (vencedoras

do leilão), como tivemos com a Petrobrás nos últimos anos, não ficaremos dependente­s.”

Também as razões que levaram as empresas internacio­nais a investir no Brasil merecem ser lembradas. “Temos uma visão que considera 30 anos de investimen­tos”, disse o presidente regional da BP na América Latina, Felipe Arbelaez. “E o Brasil tem um longo passado de respeito às leis e aos contratos”, por isso “não estamos preocupado­s com a eleição”. O que a empresa espera é que as regras anunciadas para o leilão sejam cumpridas.

Também o presidente da Shell Brasil, André Araújo, lembrou que o País respeita contratos e, por isso, “continuamo­s avançando nas nossas apostas”. Mesmo tendo perdido a disputa pelo campo de Saturno, a ExxonMobil, segundo sua presidente no Brasil, Carla Lacerda, considerou satisfatór­io o resultado. A empresa confia na manutenção do cronograma da ANP para as próximas licitações e vai analisá-las uma a uma. A empresa agora opera 26 blocos no Brasil.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil