‘Contexto encoraja as ações violentas’
“O que estamos vendo é diferente de outras campanhas, como a de 1989, porque as manifestações de violência acontecem no âmbito das plataformas sociais”, explicou Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECAUSP). “É muito preocupante. São fatos que podem estimular novos episódios”, afirmou Bucci, ressaltando que observa o quadro como um estudioso da Comunicação.
“Esse contexto encoraja as pessoas a tomar atitudes violentas. É preciso ter cuidado, ter respeito pela democracia”, disse. Para o professor da USP, “esse tipo de violência veio à tona com o discurso de ódio na campanha, que ‘desreprime’ as manifestações de violência física”. Segundo Bucci, os episódios devem ser observados junto com outros casos. “O ataque a tiros à caravana de Lula, no interior do Paraná, o assassinato da vereadora Marielle Franco, no Rio, e a facada no candidato Jair Bolsonaro, em Minas Gerais”, citou. O professor da ECA lembrou ainda que há também as ameaças, como no caso de Manuela d’Ávila.
Bucci argumentou que os casos de violência não são episódios ligados entre si, “com nexo orgânico”, especificou, “mas estão conectados pela exacerbação da linguagem violenta da radicalização”. Para ele, “o que vincula os episódios violentos é a elevação da temperatura de setores sem compromisso com a democracia”.
Bucci insistiu que é preciso observar “que pode haver um debate político franco e forte, mas sempre com respeito à democracia”. Ele destacou a necessidade de reconhecer os princípios “da legitimidade do outro e do compromisso com a integridade física das pessoas”. Bucci afirmou ainda que quando começam a ser rompidas as premissas da democracia “tudo pode se esgarçar”.
Novidade. Para o pesquisador Bruno Rangel, do Grupo de Estudos e Pesquisa de Direito Eleitoral da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB), a violência por conta das fake news é novidade.
“É, sem dúvida, muito preocupante numa campanha que já teve atentado contra um candidato”, afirmou o pesquisador.
Rangel argumentou que ainda não há dados suficientes para estabelecer comparações acadêmicas, mas pode-se enxergar responsabilidades. Ele acredita também que os candidatos nestas eleições têm responsabilidades no ambiente de confrontos. “É como num jogo de futebol: se os jogadores brigam dentro do campo, é provável que as torcidas passem a brigar também.” Segundo ele, “quem perde é o eleitor”.