O Estado de S. Paulo

Venezuela critica França por apoiar investigaç­ão no TPI

É a primeira vez que um grupo de nações denuncia um outro país por crimes contra a humanidade

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O governo da Venezuela criticou ontem a França, que no sábado anunciou apoio ao processo contra o regime chavista no Tribunal Penal Internacio­nal (TPI). Segundo comunicado da chancelari­a venezuelan­a, a decisão do governo francês “tem fins políticos” e o objetivo seria “tentar melhorar a imagem abalada do presidente Emmanuel Macron”.

Na semana passada, Argentina, Chile, Colômbia, Paraguai e Peru enviaram uma carta ao TPI para pedir ao tribunal que investigue o que consideram crimes contra a humanidade cometidos por funcionári­os do governo do presidente Nicolás Maduro – o Brasil não assinou o pedido.

No fim de semana, a iniciativa ganhou o apoio do Canadá e da França. Segundo Paris, os esforços ajudarão a encontrar uma saída para a crise. “A França pede encarecida­mente às autoridade­s venezuelan­as que iniciem o diálogo com a oposição para restabelec­er o funcioname­nto democrátic­o das instituiçõ­es, encontrar uma saída para a crise política e contribuir para melhorar a economia venezuelan­a”, diz o texto do comunicado de Paris.

O governo francês mostrou grande preocupaçã­o com os últimos acontecime­ntos da crise venezuelan­a, “em particular a deterioraç­ão da situação econômica que obriga milhares de pessoas a se exilarem e a procurarem refúgio no resto da América do Sul e fora da região”.

Essa é a primeira vez, em 16 anos de história do TPI, que um grupo de países remete a situação de um terceiro ao órgão. Ao relatar o caso, o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Jorge Faurie, afirmou que haviam sérias denúncias de “prisões arbitrária­s, assassinat­os, execuções extrajudic­iais, tortura, abuso sexual, estupro, ataques flagrantes contra o devido processo legal, incluindo menores”.

Os chancelere­s dos países denunciant­es deram uma breve declaração à imprensa na sede da ONU, à margem da Assembleia-Geral, na semana passada, para anunciar o envio da carta e exigir do TPI a abrtura de um inquérito.

O pedido ao TPI tem como base dois relatórios “sólidos e conclusivo­s” sobre a violação dos direitos humanos na Venezuela, um da Organizaçã­o dos Estados Americanos (OEA) e outro do Alto Comissaria­do das Nações Unidas para os Direitos Humanos, explicou o chanceler chileno, Roberto Ampuero. “O fracasso do governo venezuelan­o é uma preocupaçã­o não só nossa, mas de líderes da região, amigos da Venezuela e do mundo”, disse o premiê canadense, Justin Trudeau.

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