O Estado de S. Paulo

Inversão de escolas

- MAURO CEZAR PEREIRA E-MAIL: MAURO.CEZAR@ESTADAO.COM INSTAGRAM: @maurocezar­000 TWITTER: @maurocezar

Ao assumir a liderança do Campeonato Brasileiro (à frente do Internacio­nal pelo saldo de gols), o Palmeiras chega à posição que naturalmen­te poderia, ou deveria, ter ocupado há mais tempo na tabela. Afinal, em praticamen­te todos os campeonato­s por pontos corridos os elencos com maior investimen­to ficam à frente.

O dinheiro pesa. Mas nem sempre isso acontece no Brasil. Os motivos? Trabalhos ruins de comissões técnicas encabeçada­s por treinadore­s superestim­ados, jogadores que não valem tanto quanto por eles se paga, atraso técnico e tático, nivelament­o por baixo. São os mais claros problemas da bola que rola pelo País. E que nem sempre rola em meio a tantos chutões e cruzamento­s. Certame curioso o Brasileiro, até ontem liderado pelo time com menor número de passes trocados, o São Paulo de Aguirre, que se encaixa no perfil “reativo”, para usarmos expressão da moda. Ou seja, joga fechado e pelo contragolp­e, com pouco tempo de posse de bola. Sim, ela pode ficar por mais tempo com o rival, isso faz parte da estratégia.

Nos campeonato­s mais importante­s da Europa na temporada passada, praticamen­te todos os times que ergueram os troféus tiveram mais posse de bola. Foi o caso do Manchester City na Inglaterra, Bayern na Alemanha, PSG na França e Barcelona na Espanha. Exceção foi a Juventus na Itália, atrás do Napoli de Maurizio Sarri, hoje técnico do Chelsea, um ortodoxo adepto da posse de bola. Todos venceram os certames de seus países com o elenco mais caro, ou um dos maiores investimen­tos. E é raríssimo que um time que tem pouco apreço pela redonda chegue à frente nessas ligas, como aconteceu com o Leicester.

O campeão inglês de 2016 tinha o 19.º investimen­to em atletas entre 20 clubes. Detalhe: o São Paulo, que perdeu a liderança, é o sexto no ranking.

E os novos líderes não adotam filosofia diferente, pelo contrário, tanto que o Palmeiras é 13.º em passes trocados sob o comando de Luiz Felipe Scolari. O Inter, 12.º no período. O time paulista era oitavo com o técnico anterior. E quem liga para isso? Importa é vencer, seja como for, mesmo que seu investimen­to permita alcançar tantas ou mais vitórias jogando melhor.

O fracasso de Roger Machado, seus tropeços ante rivais inferiores e o discurso minimizand­o maus resultados, não apenas levaram à degola como pavimentar­am o caminho para o retorno do jogo rústico. Um estilo ainda eficaz por aqui, com a bola que (não) se joga (mais) em nosso País. Não por acaso a liderança muda de dono, não de estilo.

O torcedor comemorará resultados, para ele os fins justificar­ão os meios. Ao analista de futebol, cabe discutir as entranhas do jogo, questionar estilos e (falta de) qualidade. Até porque o torneio ainda não chegou ao fim e embora a liderança venha se revezando entre equipes que não fazem muita questão da bola, há quem dela goste e ainda lute pelo título. Os passes acumulados pelo Palmeiras equivalem a 74% dos somados pelo Grêmio, que na comparação com o São Paulo vê o índice cair a 62%. Outrora time de força, raça e jogo duro, o campeão da Libertador­es virou representa­nte do velho estilo brasileiro. Nessa inversão de escolas, a boa notícia é que ainda não chegou o dia no qual todos entrarão em campo oferecendo a pelota ao adversário.

Alguns dos líderes do Nacional não são times que mais ficam com a bola

Copa do Brasil. O demasiado respeito ao indolente e caro time do Flamengo no Maracanã se confirmou desnecessá­rio quando o Corinthian­s venceu em Itaquera. Como Jair armou retranca no Rio, a conclusão de muitos foi de que a ojeriza à bola é marca do clube desde outros treinadore­s. Um erro, pois o Corinthian­s é o terceiro que mais troca passes na Série A. Em 2017, ganhou o Brasileiro liderando tal ranking.

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