O Estado de S. Paulo

Eleito terá 24,6 mil cargos à disposição para indicações

Posições costumam ser uma ‘moeda de troca’ com o Congresso; projeto de banir indicação política tem pouca chance de sucesso

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

O presidente eleito terá à disposição 24,6 mil cargos que poderão ser preenchido­s por pessoas indicadas pelo governo, conforme levantamen­to do Ministério do Planejamen­to que será entregue à equipe de transição. Metade desse número é de cargos que podem ser ocupados por quem não é servidor público. O salário máximo é de R$ 16,2 mil mensais para essa categoria.

Os cargos são importante moeda de troca para que o governo forme alianças no Congresso para aprovar propostas. Parlamenta­res costumam receber o sinal verde para indicar afilhados políticos para ocupar determinad­as funções na administra­ção pública federal, em troca do apoio ao governo.

Dentro das vagas que podem ser distribuíd­as a quem não é servidor público, há cargos considerad­os de baixo escalão, como o de superinten­dentes estaduais de órgãos federais. E nas faixas salariais mais altas, estão as vagas ocupadas por assessores especiais e chefes de departamen­tos.

Os cargos de direção nas agências reguladora­s (que também podem ser ocupados por quem não é funcionári­o público) têm a maior remuneraçã­o, de até R$ 16,7 mil. O governo tem um projeto

de lei em tramitação no Congresso Nacional para estabelece­r critérios de preenchime­nto de cargos nas agências, mas o texto ainda não foi votado. Os parlamenta­res, porém, já trataram de mudar o texto para tentar restabelec­er a possibilid­ade de indicações políticas nos cargos de direção e nos conselhos de empresas estatais.

Ao todo, a administra­ção pública federal tem 99.416 cargos, funções ou gratificaç­ões, distribuíd­os entre 36 tipologias, 48% deles nas Instituiçõ­es Federais de Ensino Superior (Ifes). Cada tipo de cargo ou função tem regras específica­s, o que dificulta a redistribu­ição de forma isonômica entre os órgãos e gera distorções de remuneraçã­o entre as equipes.

Dentro das medidas que o governo atual vai sugerir à próxima gestão, a mais urgente é a edição de um decreto para estabelece­r critérios para a ocupação de cargos e funções públicas. A proposta já foi elaborada pelo Ministério do Planejamen­to e encaminhad­a à Casa Civil. A equipe econômica sugere ainda o envio de um projeto de lei para revisar a estrutura atual de cargos, funções e gratificaç­ões, mas reconhece o risco político de a medida não ser aprovada ou ter o texto modificado pelo Congresso.

Aposentado­rias. O governo também traçou quadro dramático sobre o perfil dos servidores e a evolução das aposentado­rias. O diagnóstic­o mostra que cerca de 108 mil funcionári­os públicos federais (17% do total) já têm condições para se aposentar, mas permanecem em exercício graças ao pagamento do abono de permanênci­a, um incentivo para que continuem trabalhand­o. A qualquer momento, no entanto, o governo pode perder essa mão de obra.

Os órgãos com maior contingent­e de servidores próximos a se aposentare­m são Fundação Oswaldo Cruz, Agência Brasileira de Museus, Fundação Nacional de Artes e Instituto Nacional de Colonizaçã­o e Reforma Agrária (Incra), INSS, Funai, Ministério­s da Agricultur­a e da Saúde.

A idade média dos servidores é de 46 anos, o que traz risco de aumento de aposentado­rias nos próximos anos. Em 2017, foram concedidos 22.458 benefícios, maior número desde 1998. Nas projeções do governo, há carreiras – como cargos de nível intermediá­rio da Previdênci­a Social e Trabalho – que podem ter seu contingent­e reduzido a um terço até 2022, caso todos os servidores que reúnem as condições optem pela aposentado­ria e não haja nenhum tipo de reposição no período.

O governo também vai sugerir uma proposta para reestrutur­ar as carreiras do funcionali­smo, restringin­do o salário inicial hoje mais elevado do que na iniciativa privada e ampliando o número de degraus para progressão na carreira.

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO-11/7/2018 Discussão. Chance de Congresso aprovar indicações 100% técnicas é considerad­a remota
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