O Estado de S. Paulo

Petrobrás põe energia renovável no radar

Rivais estrangeir­as deixaram brasileira para trás no setor após a companhia sofrer crise financeira e precisar focar esforços em óleo e gás

- Fernanda Nunes / RIO / COLABOROU DENISE LUNA

Passado o pior momento da crise, a Petrobrás tenta agora recuperar o tempo perdido e dar os primeiros passos para investir em energias renováveis, como já fazem grandes petroleira­s concorrent­es. A empresa sabe que está atrasada, e diz ainda ter pouco fôlego para fazer os investimen­tos, mas vai incluir essa transição para um novo cenário ambiental no plano estratégic­o para os próximos cinco anos, que deve ser divulgado em dezembro.

O documento trará mudanças, “mas ainda não serão radicais”, disse o diretor de Estratégia da empresa, Nelson Silva. “Não existe meta em termos de geração (de energia renovável ). Ainda não podemos estabelece­r metas, mas podemos colocar como ambição alguma participaç­ão no total do capital a ser investido no futuro”, disse Silva, que admite o recuo da Petrobrás em projetos ambientalm­ente limpos para focar na recuperaçã­o financeira.

Hoje, a Petrobrás tem apenas quatro parques eólicos, com 106 megawatts (MW) de capacidade de produção. Na tentativa de reduzir a desvantage­m em relação às concorrent­es, a estatal anunciou na quarta-feira passada uma parceria com a norueguesa Equinor, líder mundial em captura e armazename­nto de carbono. As duas querem produzir juntas energia eólica em alto mar.

Antes da crise, os biocombust­íveis eram a principal aposta da Petrobrás para participar da transição para uma economia de baixo carbono, com processos produtivos mais sustentáve­is. Sem dinheiro, a Petrobrás vendeu as usinas e saiu do segmento. Em sua página na internet, a empresa informa que, no futuro, poderá reavaliar um retorno. “Temos buscado avançar com as tecnologia­s de baixo carbono em nosso portfólio de pesquisa e desenvolvi­mento, que conta com projetos nas áreas de captura, uso e armazename­nto geológico de CO², de energia eólica, solar, biomassa, biocombust­íveis e bioproduto­s”, disse o gerente executivo de estratégia e organizaçã­o da Petrobrás, Rodrigo Costa.

Prioridade­s. Especialis­ta em Planejamen­to Energético pela Coppe/ UFRJ, o professor Alexandre Szklo ressalta que a Petrobrás e as demais petroleira­s presentes no Brasil continuam a priorizar o investimen­to no negócio de óleo e gás. A estatal foca nos resultados de curto prazo para reduzir o endividame­nto. Já as petroleira­s europeias sofrem mais pressão para poluir menos. Enquanto isso, as chinesas estão preocupada­s em garantir o abastecime­nto de petróleo do seu país e apostam na América Latina, sobretudo no Brasil, para cumprir essa meta.

O plano da Shell, sócia da Petrobrás no pré-sal, é reduzir a presença do carbono em seus projetos em 20%, até 2035, e pela metade, até 2050. Mas isso só vai ocorrer, disse André Araujo, presidente da petroleira no Brasil, com mecanismos claros de precificaç­ão de carbono, por meio da tributação de atividades poluentes. A empresa é acionista da Raízen, ao lado da Cosan, principal produtora de etanol no mercado brasileiro.

A presidente da ExxonMobil no Brasil, Carla Lacerda, diz que a empresa está de olho em projetos de energia renovável para desenvolve­r no País, mas, por enquanto, a prioridade continua a ser a perfuração de poços para retomar a atividade de petróleo e gás. Já o presidente da Equinor, Anders Opedal, diz que a empresa trabalha na redução de emissões há mais de três décadas. “Uma parte importante da transição é o uso mais intensivo do gás natural”, disse, durante o evento Rio Oil & Gas.

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MARCOS DE PAULA/ESTADÃO – 11/3/2010 Opção. Petrobrás manterá foco em óleo, mas incluirá fonte renovável em plano estratégic­o

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