O Estado de S. Paulo

Entidades fazem apelo para ‘salvar’ o comércio

FMI, Banco Mundial e OMC pedem união para definição de novas regras comerciais

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

O Fundo Monetário Internacio­nal, o Banco Mundial e a Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC) se uniram para fazer um apelo inédito por uma reforma das regras internacio­nais do comércio. O objetivo é tentar preservar o sistema diante da pior crise diplomátic­a da história do multilater­alismo comercial e manter a relevância das decisões no âmbito da OMC.

Nas últimas semanas, EUA e China anunciaram medidas protecioni­stas, causando tensões nos mercados e obrigando a OMC a rever para baixo a expansão do comércio para 2018 e 2019. Durante a Assembleia Geral da ONU, na semana passada, o presidente americano Donald Trump deixou clara sua crítica ao sistema de regras do comércio e à OMC.

Pilares do sistema criado depois da Segunda Guerra Mundial, o FMI e o Banco Mundial se uniram à OMC para lançar um alerta sobre a necessidad­e de que o sistema seja reformado de forma “urgente”. “A última grande reforma do sistema – a Rodada Uruguai – foi concluída quase há quase um quarto de século e lidava com a agenda dos anos 1980”, disseram. As entidades dizem que o sistema foi sendo adaptado desde sua criação, nos anos 1940. “O cenário de rápidas mudanças no comércio exigem uma nova transforma­ção da administra­ção do comércio global.”

Entre os pontos enumerados pelas instituiçõ­es estão os subsídios que estariam prejudican­do as trocas comerciais. FMI, Banco Mundial e OMC fazem eco às críticas dos americanos quanto à necessidad­e de se regular o apoio que o Estado chinês dá à sua produção e exportação, com bilhões em subsídios.

A iniciativa coincide com a mudança no Órgão de Apelação da OMC – uma espécie de tribunal superior do comércio global –, que passará a ter três juízes, em vez de sete. O governo americano tem vetado nomes para ocupar os cargos, deixando os lugares vagos e o mecanismo à beira do colapso.

Temendo uma retirada de Trump dos principais acordos internacio­nais, um grupo de países está costurando uma proposta de reforma para tentar salvar o sistema. Ainda em outubro, ministros irão se reunir no

Canadá com essa missão.

Fator OMC. “O desafio urgente é o de manter a força da OMC”, indicaram as entidades. Para elas, foi a falta de avanço em negociaçõe­s comerciais nos últimos 20 anos que aprofundou as distorções no mercado internacio­nal, o que agora causa tensão.

Para as entidades, é urgente que temas como comércio elétrico, serviços e investimen­tos façam parte de acordos internacio­nais. “O ritmo lento das reformas desde o início dos anos 2000, mudanças fundamenta­is numa economia moderna interconec­tada e o risco de retrocesso­s em políticas comercial geral um apelo por uma reforma urgente”, disseram.

O documento apresentad­o pelas entidades sugere iniciativa­s concretas para modernizar as regras comerciais, incluindo a inclusão de acordos sobre o fluxo de investimen­tos. De acordo com o levantamen­to, o setor de serviços representa dois terços do PIB mundial e metade do comércio. Mas as barreiras são tão altas como as taxas que existiam há 50 anos.

Outro aspecto defendido pelas entidades é a inclusão do comércio eletrônico, algo que praticamen­te não existia quando a Rodada Doha foi lançada.

Mas FMI, Banco Mundial e OMC também reconhecem que a atual estrutura de negociaçõe­s já não funciona. Agora, as entidades querem estruturas mais flexíveis para acordos. Na prática, um entendimen­to comercial poderia ser fechado entre apenas uma parcela dos países, driblando os atuais impasses e vetos de governos que não querem fechar tratados em determinad­os setores.

Na avaliação das entidades, os impasses em reformar o sistema nos últimos anos levaram a uma proliferaç­ão de acordos bilaterais. Se isso foi positivo para abrir mercados, ele “represento­u um risco de fragmentar o sistema comercial”. Em 1995, existiam 54 tratados comerciais. Hoje, eles chegam a 250. Para as entidades, a nova etapa exige “um pensamento fresco”.

Distorções. O documento ainda destaca o riscos que a não realização de uma reforma embutiriam: “Uma prolongada desacelera­ção no ritmo de reformas do comércio está deixando um espaço generaliza­do para distorções comerciais e colocando em risco a sustentabi­lidade da recuperaçã­o econômica.”

“Chegou a hora de voltar a investir no sistema global aberto e com base em regras”, defenderam as entidades. “Desde a Segunda Guerra Mundial, o sistema de regras trouxe maior abertura, estabilida­de e transparên­cia, alimentand­o um cresciment­o sem precedente­s na economia mundial.”

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AL DRAGO/THE NEW YORK TIMES Tensão. Disputa acirrada entre a China e os EUA, de Donald Trump, colocaram regras atuais de comércio global em xeque

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