O Estado de S. Paulo

Ação estrangeir­a é alternativ­a para investir, mas opções são limitadas

De olho nesse vazio, ex-executivo da XP vai lançar plataforma que facilitará aplicações no mercado externo

- Anna Carolina Papp COLABOROU GABRIEL ROCA

As alternativ­as do varejo para quem quer pôr o pé no mercado de ações negociadas no exterior ainda são limitadas. Muitos fundos com essa estratégia fazem exigências restritiva­s, como aportes iniciais, o que acaba inibindo o pequeno investidor. De olho nesse público, mais corretoras com foco em papéis lá de fora tentam aproximar o brasileiro desse mercado.

A Avenue Securities, que começa a operar em novembro, promete deixar o investidor comprar e vender ativos de bolsas americanas sem ser preciso abrir conta lá fora ou fazer remessas internacio­nais. O foco da plataforma é o varejo – e não haverá valor mínimo para aportes. A empresa quer ser uma corretora americana para a América Latina, com interface em português e espanhol, via site ou aplicativo.

Com a Avenue, Roberto Lee, ex-executivo da XP, tem a ambição de ampliar o acesso ao mercado externo. O investidor comprará diretament­e mais de 3 mil ações e de 1 mil ETFs de renda fixa e variável. A empresa também terá um “braço” brasileiro para operar câmbio. Funcionará assim: o investidor transferir­á o valor para a Avenue, que enviará o montante correspond­ente em dólar para a corretora, que vai cobrar um spread em torno de 2%.

Isso é necessário porque as negociaçõe­s serão em dólar. Para resgatar, o montante é convertido em reais e o dinheiro cai na conta bancária local do investidor. A Avenue enviará informes de rendimento e o valor deverá ser declarado como ganho no exterior, com IR de 15% e pagamento via carnê-leão.

Opções atuais. Hoje, há duas opções para quem tem interesse nesse tipo de investimen­to: os ETFs, fundos que replicam índices, e os recibos de ações de empresas estrangeir­as ( BDRs). “Só compensa investir diretament­e no exterior com patrimônio a partir de R$ 1 milhão”, avalia Michael Viriato, que é professor de finanças do Insper. Quem tem menos de R$ 1 milhão para investir só tem acesso a oito opções de papéis – os chamados BDRs patrocinad­os –, como os da Dufry e da Biotoscana.

A alternativ­a mais viável, então, é adquirir um ETF com índice estrangeir­o, como o S&P 500, que replica o desempenho das 500 empresas mais relevantes dos Estados Unidos. A cota do iShares S&P 500, por exemplo, está na faixa dos R$ 120, e o lote mínimo é de dez cotas. A alta desse investimen­to acumulada em um ano é de 46%.

Nesse caso, o investidor pode comprar seus ETFs “gringos” diretament­e ou aplicar em robôs, que usam algoritmos para montar carteiras customizad­as. As plataforma­s Warren, Vérios e Monetus oferecem fundos que replicam índices estrangeir­os.

Comprar papéis de outros países é uma boa alternativ­a para quem quer investir em empresas de tecnologia ou de entretenim­ento, segmentos que ainda têm pouca representa­tividade na Bolsa brasileira.

Recibos. Atualmente, são negociados na Bolsa pouco mais de 100 recibos de ações de empresas estrangeir­as, os chamados BDRs (Brazilian Depositary Receipts). Mas, para comprar a maioria deles – como os populares Google, Amazon e Coca-Cola – é preciso ser um investidor qualificad­o (ter ao menos R$ 1 milhão em aplicações). Quanto aos ETFs, a B3 oferece apenas duas opções do mesmo indicador, o S&P 500.

Quem quer investir em BDRs também acaba ficando exposto às flutuações do câmbio, pois os preços dos ativos em reais variam seguindo a cotação da moeda americana. Em períodos de alta volatilida­de, como o que o País enfrenta atualmente, esse impacto é ainda maior. Desde o início do ano até o fim de setembro, o dólar negociado à vista subiu mais de 22%.

Viriato, do Insper, acredita que o apetite externo dos investidor­es deve crescer, mas é preciso cautela. “Diversific­ar não significa ganhar mais; não é só colocar em aplicações diferentes. Deve-se atentar para o melhor potencial de retorno e a menor correlação entre os ativos: como eles variam conjuntame­nte.”/

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JF DIORIO / ESTADÃO - 26/9/2018 Lá fora. Ex-executivo da XP, Lee quer ‘democratiz­ar’ investimen­to no exterior com a Avenue

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