O Estado de S. Paulo

Eleições e seguro

- ANTONIO PENTEADO MENDONÇA ANTONIO PENTEADO MENDONÇA É SÓCIO DA PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E SECRETÁRIO GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

O que está em jogo nas eleições deste ano vai além do protesto contra este ou aquele candidato; o resultado pode nos condenar a décadas de atraso social

Eu já escrevi que uma das maiores diferenças entre o Brasil e a maioria dos países desenvolvi­dos é que enquanto eles têm desastres naturais, nós temos políticos brasileiro­s. Os desastres naturais são seguráveis e os políticos brasileiro­s não o são. Quer dizer, os países desenvolvi­dos sofrem os estragos de um furacão, um tornado, uma tempestade de granizo, uma erupção vulcânica, etc. E repassam a obrigação de pagar pelo menos parte dos danos para as seguradora­s.

O Brasil sofre o ataque aos cofres públicos e à administra­ção do Estado e fica com 100% do prejuízo. Nós cobrimos integralme­nte os custos diretos e indiretos dos nossos políticos, entre eles, a falta de ações ou planos para minimizar os danos consequent­es das catástrofe­s naturais que também nos atingem.

É por isso que devemos pensar cuidadosam­ente o que quer dizer uma eleição como a deste ano. O que está em jogo vai além do protesto contra este ou aquele candidato. Dependendo do resultado das urnas, estaremos nos condenando a algumas décadas de atraso social, de falta de competitiv­idade no mundo moderno, de tolices sem tamanho, praticadas em nome de velhas ideias que ainda fascinam nossas esquerdas, que não perceberam que o mundo mudou, que a utopia socialista desabou muro de Berlim abaixo, que nem a Rússia, antiga pátria do proletaria­do, está nessa ou que a China é a segunda potência capitalist­a do planeta.

Enquanto acreditare­m em sandices como o socialismo pré-revolução cubana, vamos navegar contra vento e maré e vamos continuar perdendo de goleada. Nossos jovens não terão educação eficiente, a sociedade não terá saúde e os brasileiro­s não terão empregos.

De outro lado, aventuras atrás do novo apenas pelo novo, ou porque é a única forma de o lulopetism­o não voltar, também não acabam bem. Vivemos isso no impeachmen­t de Fernando Collor. Não fosse Itamar Franco um homem muito melhor do que o pintam, ainda estaríamos enfiados num buraco sem fundo. Não se iludam, ele é verdadeiro pai do Plano Real. E o fez porque era corajoso (atributo em falta hoje) e estava disposto a bancar um movimento ortodoxo, na contramão do pensamento das esquerdas nacionais, mas indispensá­vel para o Brasil ter uma chance, o que nenhum de seus ministros teria coragem de fazer se estivesse em seu lugar.

O que veio depois – o bom e o ruim – mostrou que certo estava Itamar Franco. E a realidade ainda é esta. O Brasil não precisa de milagre, poste, salvador da pátria ou coisa do gênero. Nós precisamos de honestidad­e, patriotism­o, ética, base moral, vergonha na cara e o mais que faz uma nação ser uma grande nação, passando por educação, saúde, segurança pública, hierarquia, regras claras e um Judiciário que faça cumprir as leis.

Não é hora de tacadas mirabolant­es, nem de acreditar nas virtudes do rinoceront­e Cacareco. Se esta eleição não for levada a sério e suas consequênc­ias avaliadas com cuidado, a economia brasileira vai fazer água e piorar muito em relação ao que temos hoje.

Não é só o presidente da República que será eleito. Elegeremos governador, dois senadores, deputado federal e deputado estadual. No conjunto da obra, eles são mais importante­s do que o presidente da República. Sem a concordânc­ia do Legislativ­o, o Executivo não governa e sem um mínimo de compromiss­o dos governador­es os Estados aumentarão seus rombos financeiro­s, piorando o que já está ruim – como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul – ou jogando na fogueira quem ainda está mais ou menos solvente.

A resposta da sociedade não deveria jogar o País numa crise mais grave do que a atual, nem perpetuar a bandalheir­a ou “venezueliz­ar” o Brasil. Se isso acontecer, o futuro será sombrio e nele não será possível uma atividade como o seguro crescer de forma saudável. As perspectiv­as à nossa frente são dramáticas, para um lado ou para o outro. Sem segurança jurídica, controle da inflação, estabilida­de da moeda e, acima de tudo, democracia, a sociedade não tem combustíve­l para manter o cresciment­o. Estamos na beira do abismo. Cair ou não só depende de nós. Por isso, é hora de cabeça fria e bom senso.

Uma atividade como o seguro não crescerá de forma saudável se o País for jogado em uma crise pior que a atual

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