O Estado de S. Paulo

Sally Field fala sobre sua vida ‘em pedaços’

Com seu livro de memórias ‘In Pieces’, atriz consegue finalmente expor suas dores, como os abusos que sofreu

- Dave Itzkoff NYT / LOS ANGELES / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

Poucos antes do lançamento de seu livro de memórias, In Pieces (Em Pedaços), Sally Field não tinha certeza se queria que ele fosse publicado. Ela sentiu isso por seis ou mais anos em que trabalhou nele e não estava confiante que alguém ia querer lê-lo. “Eu não sabia que tinha uma voz”, disse em conversa recente.

Logo após saber que o papel de Mary Todd em Lincoln, de Steven Spielberg, era dela, Sally fez um jantar para sua mãe, Margaret. Então Field revelou como havia passado por abusos sexuais quando criança, por seu padrasto. Foi difícil para a mãe ouvir que houve abusos durante toda a adolescênc­ia de Field. Mas na manhã seguinte, sua mãe, mesmo com a saúde em declínio, ela morreu de câncer em 2011, assegurou-lhe que ela não estaria mais sozinha em sua dor.

Em sua casa em Pacific Palisades numa tarde de agosto, Field, de 71 anos, estava tranquila. Ela não é por natureza uma pessoa confession­al; apesar da visibilida­de que ganhou em uma carreira de décadas de atuação – ela ganhou três Emmys e dois Oscars, e estrelou filmes como Norma Rae, Flores de Aço e Forrest Gump – O Contador de Histórias – ela acha mais fácil falar por meio de seus personagen­s do que se expor.

In Pieces (Grand Central Publishing) não é uma autobiogra­fia tradiciona­l do show biz, apesar de mergulhar em alguns dos famosos papéis e relações de Field com celebridad­es como Burt Reynolds (que morreu este mês), e relata como ela criou três filhos de dois casamentos que terminaram em divórcio.

A vida que Field revela em In Pieces é aquela que foi obscurecid­a por abusos e crueldades que são frustrante­mente comuns às mulheres. O livro também conta uma história iluminada pela abundante graça e dignidade de sua autora, e seu autêntico desejo de sondar as profundeza­s de seus sentimento­s, um desejo que, segundo ela, subjugava suas reticentes tendências.

Depois que Margaret Field pediu o divórcio do pai de Sally, Richard, em 1951, ela se casou novamente em 1952 com Jock Mahoney, um dublê e ator (Tarzan Vai à Índia). Como Sally Field escreve sobre Mahoney em seu livro: “Teria sido mais fácil se ele não fosse nada além de cruel e assustador. Mas ele não era. Ele poderia ser mágico, o flautista com nossa família seguindo-o em transe”.

Sentindo-se incapaz de compartilh­ar plenamente suas experiênci­as com os outros, Field procurou uma saída em sua atuação. “Senti algo que não sentia antes. Ouvi minha voz. E eu me perguntei o que teria acontecido se eu não tivesse feito isso. Quanto tempo levaria para sentir que tinha o direito de me sentir indignada?”

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BRINSON+BANKS/NYT Sally. Confissões em livro

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