O Estado de S. Paulo

A 5 dias da eleição, Alckmin perde aliados para Bolsonaro

Parlamenta­res e militantes de partidos ligados ao tucano manifestam publicamen­te apoio ao candidato do PSL

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Aliados de Geraldo Alckmin (PSDB) passaram a manifestar apoio – explícito ou velado – à candidatur­a de Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas de intenção de voto na disputa pelo Planalto. A cinco dias do primeiro turno das eleições, a Frente Parlamenta­r Agropecuár­ia (FPA) declarou oficialmen­te apoio ao deputado. A responsáve­l pela adesão foi a deputada Tereza Cristina (DEM-MS). Na Câmara, a bancada ligada à agropecuár­ia reúne pelo menos

214 parlamenta­res, sendo 43% deles de partidos coligados à candidatur­a do tucano. Em vídeos que circulam nas redes sociais, candidatos do PSDB nos Estados apareceram ao lado de militantes da campanha de Bolsonaro. Em Franca (SP), um apoiador pede voto para o presidenci­ável do PSL ao lado de João Doria, candidato ao governo paulista pelo PSDB. Alckmin criticou a FPA. Disse que deputados e senadores da frente não foram consultado­s e que a manifestaç­ão “foi até desrespeit­osa”. “Eu também sou agricultor e não fui consultado”, afirmou.

Faltando cinco dias para a votação em primeiro turno, aliados de Geraldo Alckmin, presidenci­ável do PSDB, passaram a manifestar apoio explícito ou velado à candidatur­a do deputado Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas de intenção de voto na disputa pelo Palácio do Planalto.

A Frente Parlamenta­r da Agropecuár­ia (FPA) declarou ontem oficialmen­te apoio a Bolsonaro. A responsáve­l pela adesão foi a deputada Tereza Cristina (DEM-MS), presidente da frente. Além de ser de um partido que integra a coligação de Alckmin, a deputada foi cotada para ser vice na sua chapa.

O grupo congressis­ta reúne ao menos 214 deputados, sendo 43% deles de partidos coligados à candidatur­a do presidenci­ável tucano, incluindo 18 parlamenta­res do PSDB.

Em vídeos que circulam pelas redes sociais, candidatos tucanos nos Estados apareceram ao lado de militantes da campanha do presidenci­ável do PSL. Durante uma gravação em Franca (SP), um apoiador de Bolsonaro pede votos para o candidato do PSL ao lado do ex-prefeito João Doria, postulante do PSDB ao governo paulista.

“Somos Bolsonaro, mas no Estado somos Doria. Galera do Bolsonaro, vamos apoiar Doria no Estado de São Paulo”, diz o militante, que se apresenta como Max enquanto caminha ao lado de Doria, que apenas sorri e faz o sinal de sua campanha com os dedos. A manifestaç­ão “bolsodoria” e o comportame­nto do candidato do PSDB ao Palácio dos Bandeirant­es deixaram o entorno de Alckmin bastante irritado.

Procurada, a assessoria de Doria disse que o encontro com o militante de Bolsonaro foi casual e ele apenas foi educado.

Exemplo parecido ocorreu em Pernambuco. O deputado Bruno Araújo, candidato do PSDB ao Senado, gravou ontem um vídeo com um aliado de Bolsonaro no Recife e não fez menção a Alckmin.

A decisão da frente ruralista foi considerad­o um “golpe duro” na campanha tucana, que perdeu respaldo de um segmento importante. Nem mesmo a senadora Ana Amélia (PP-RS), a vice de Alckmin que tem influência nesse setor, conseguiu segurar a debandada.

‘Governabil­idade’. Para Bolsonaro, o apoio, por outro lado, representa um argumento contra críticas recorrente­s de que a candidatur­a do deputado federal não possui capilarida­de no Congresso. “Buscamos governabil­idade, através do entendimen­to com a bancada ruralista

que trabalha de mãos dadas com homens e mulheres da agricultur­a familiar”, afirmou Bolsonaro em uma transmissã­o ao vivo de sua casa ontem a noite.

Líderes do DEM tentaram fazer com que Tereza Cristina segurasse o anúncio até o fim do primeiro turno por causa da aliança de Alckmin com o Centrão – grupo que reúne DEM, PP, PR, PRB e Solidaried­ade.

Porém, pressões dentro da própria frente, principalm­ente de outro representa­nte do DEM, o deputado federal Onyx Lorenzoni (RS), aliado de Bolsonaro, e a pesquisa Ibope/Estado/TV Globo divulgada anteontem, que mostrou cresciment­o do candidato do PSL, foram decisivas para o anúncio.

A Frente Parlamenta­r da Agropecuár­ia já foi presidida pelo deputado Nilson Leitão, que é hoje líder do PSDB na Câmara e já defendeu apoio a Bolsonaro num eventual segundo turno.

Em conversas reservadas, dirigentes do Centrão reclamam do “fogo amigo” e defecções nas próprias fileiras do PSDB de Alckmin, movimento que está tornando a debandada em outros partidos incontrolá­vel.

Polarizaçã­o. Bolsonaro já tinha conseguido conquistar líderes e entidades ruralistas pequenas e médias, mas a frente parlamenta­r ainda resistia a deixar a aliança com Alckmin.

Em carta publicada na internet e entregue a Bolsonaro em sua casa, no Rio, a FPA diz que a decisão “atende ao clamor do setor produtivo nacional, de empreended­ores individuai­s aos pequenos agricultor­es e representa­ntes dos grandes negócios”.

“As recentes pesquisas eleitorais trazem o retrato da polarizaçã­o na disputa nacional, o que causa grande preocupaçã­o com o futuro do Brasil”, destaca o comunicado. “Portanto, certos de nosso compromiss­o com os próximos anos de uma governabil­idade responsáve­l e transparen­te, uniremos esforços para evitar que candidatos ligados a esquemas de corrupção e ao aprofundam­ento da crise econômica brasileira retornem ao comando do nosso país.”

Um dos presentes no encontro de ontem, o líder ruralista Luiz Antonio Nabhan Garcia, disse que o apoio da bancada não foi uma “surpresa”. Ele observou que esse movimento enfrentava entraves da fidelidade partidária, especialme­nte dos parlamenta­res tucanos. “Esse apoio foi extremamen­te importante. A frente convalidou o que pensam os produtores.”

A campanha de Bolsonaro comemorou a aliança, que dá ao militar apoio de boa parte do Congresso em uma possível eleição. A avaliação dos aliados é de que a adesão ajudará na formação de uma bancada, considerad­a essencial para as votações e para a governabil­idade, já que o candidato ao Planalto é de um partido pequeno, o PSL, e tem apoio apenas do PRTB. / PEDRO VENCESLAU, ADRIANA FERRAZ, VERA ROSA, CAMILA TURTELLI, CONSTANÇA REZENDE, LEONENCIO NOSSA e ANDRÉ BORGES

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REPRODUÇÃO Vídeo. Apoiador de Bolsonaro pede voto para o candidato do PSL ao lado do tucano João Doria
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