O Estado de S. Paulo

Empresário­s do Sul tentam influencia­r voto de funcionári­os

Dono da Havan diz que deixará o País e demitirá 15 mil se Bolsonaro não vencer; supermerca­dista faz campanha pelo WhatsApp

- Márcia De Chiara Katna Baran / COLABOROU RAFAEL MORAES MOURA

Depois de dois grandes empresário­s do Sul tentarem mobilizar funcionári­os em favor de Jair Bolsonaro (PSL), o Ministério Público do Trabalho disse que a iniciativa é ilegal. Dono da rede de lojas Havan afirmou que demitirá 15 mil se Bolsonaro perder. Supermerca­dista de rede com unidades em SC e no PR faz campanha pelo WhatsApp.

A decisão de dois grandes empresário­s do Sul do País de tentar mobilizar seus funcionári­os em favor da candidatur­a de Jair Bolsonaro (PSL) levou o Ministério Público do Trabalho a se manifestar contra esse tipo de iniciativa. Em nota, a instituiçã­o federal disse que a tentativa de direcionar o voto do trabalhado­r é ilegal e pode virar alvo de ação civil pública.

Num vídeo que circula nas redes sociais, Luciano Hang, dono das lojas Havan, com sede em Santa Catarina, ameaça deixar o País e, consequent­emente, demitir seus 15 mil funcionári­os, caso Bolsonaro não vença a eleição presidenci­al. Na gravação, ele diz ter feito uma pesquisa de intenção de voto com os colaborado­res da empresa e descobriu que 30% deles pretendem votar nulo ou branco.

Hang faz um alerta sobre o que esses votos dos funcionári­os poderiam acarretar: “Você está preparado para ganhar a conta da Havan? Você, que sonha em ser líder, gerente, crescer com a Havan, você já imaginou que tudo isso pode acabar no dia 7 de outubro e a Havan fechar as portas e demitir os 15 mil colaborado­res?”.

O empresário Pedro Zonta, dono da rede de supermerca­dos Condor, com 48 unidades espalhadas pelo Paraná e Santa Catarina, também se manifestou. Ele distribuiu uma mensagem por WhatsApp e e-mail para os 12 mil empregados declarando voto a Bolsonaro, e explica os motivos pelos quais apoia o candidato e repudia o voto à “esquerda”. Entre as 11 razões que o fazem apoiar o candidato do PSL, Zonta cita a “preservaçã­o da família”, em primeiro lugar, e a “volta do cresciment­o econômico”. Ao fim do comunicado, o empresário diz que garante o pagamento do 13.º salário e o abono de férias aos funcionári­os e pede que confiem “em mim e nele (Bolsonaro) para colocar o Brasil no rumo certo”. Ontem, o vice de Bolsonaro, o general Hamilton Mourão, voltou a criticar o 13.º salário e o abono de férias. Na semana passada, ele havia dito que eram “jabuticaba­s”: coisas que só existem no Brasil.

Ontem, a Procurador­ia Regional Eleitoral do Paraná instaurou procedimen­to preparatór­io eleitoral contra o Grupo Condor e seu presidente.

A procurador­a do Trabalho Cristiane Sbalqueiro Lopes notificou ontem a direção da rede para que Zonta esclareça informaçõe­s contidas na mensagem encaminhad­a aos funcionári­os. Para o MPT, órgão federal encarregad­o de defender os direitos individuai­s e coletivos trabalhist­as, o documento sugere que funcionári­os não receberão 13.º salário em caso de derrota do candidato do PSL.

Em nota, Hang, da Havan, afirmou que não tinha como intenção coagir os funcionári­os sobre em quem deveriam votar, que pretendia ajudar os indecisos.

Outro caso. A Coligação “O Povo Feliz de Novo” (PT/ PC do B/PROS) acionou ontem o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que seja aberta uma investigaç­ão por abuso de poder econômico contra a campanha de Bolsonaro, que envolve a empresa de ar-condiciona­do Komeco, na Grande Florianópo­lis (SC).

A coligação acusa o presidente da Komeco, Denisson Moura de Freitas, de ter gravado um áudio direcionad­o a funcionári­os solicitand­o que usassem adesivos e camisetas de apoio a Bolsonaro.

No áudio, diz o PT, Freitas afirma que a empresa vai contribuir para a compra dos materiais e que os funcionári­os da Komeco vão trabalhar durante a “semana Bolsonaro” uniformiza­dos com a camiseta.

Procurada pela reportagem por e-mail, a Komeco não havia respondido até a publicação deste texto. A campanha de Bolsonaro também não se manifestou sobre o caso até a conclusão desta edição.

 ?? TWITTER / JAIR BOLSONARO ?? Visita. Imagem do Twitter de Bolsonaro mostra apoio do dono da Havan, Luciano Hang (D)
TWITTER / JAIR BOLSONARO Visita. Imagem do Twitter de Bolsonaro mostra apoio do dono da Havan, Luciano Hang (D)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil