Profecia autorrealizável?
Bolsonaro intensifica discurso pela vitória já no domingo. Adversários se mostram como baratas tontas diante do bonde do capitão.
Uma profecia autorrealizável é um prognóstico que, ao ser tomado como crença por quem o repete, acaba por provocar sua realização. O crescimento de Jair Bolsonaro a despeito de muitas circunstâncias adversas foi construído de maneira engenhosa por seus apoiadores muito com base nesse mecanismo simples, mas que foi usado com brilhantismo.
Começou com a construção da mitologia em torno de um deputado saído diretamente do folclore do baixo clero politicamente incorreto, ganhou alicerces nas redes sociais antes mesmo de ter um partido, tão fundados que prescindiram da antes poderosa propaganda em rede nacional de TV, e mostrou ser uma máquina muito bem azeitada, na verdade, depois do atentado a Bolsonaro.
Ali a estrutura que muitos – incluídos aí nós, jornalistas – julgavam mambembe se mostrou sofisticada no que tinha de organicidade, mas também de cálculo político.
Diante do início da pregação de candidatos como Geraldo Alckmin de que Bolsonaro perderia para o PT num eventual segundo turno, seus apoiadores retrucaram (ele próprio estava incapacitado de fazê-lo, por estar no hospital) imediatamente com a forte pregação para que lhe fosse, então, dada a vitória já no primeiro turno, como forma de se precaver para a volta do petismo.
A eficiente rede de propagação da profecia, via WhatsApp e redes sociais, muitas vezes operando no limite da irresponsabilidade, com a disseminação da versão segundo a qual uma não vitória seria fraude, ajudou a engrossar o caldo.
Por fim, a reação também imediata ao #EleNão, com um #EleSim no dia seguinte, acabou por cristalizar os votos que Bolsonaro já tinha e trazer outros entre relutantes e antes envergonhados, mas que foram saindo do armário com o álibi virtuoso de que tudo é melhor que a volta do PT.
Os últimos quatro dias serão de carga total para realizar a profecia já no domingo. Os adversários, por ora, se mostram como baratas tontas diante do bonde do capitão. Discursos de apelo à racionalidade ou ao voto útil, críticas ao histórico de declarações e votos de Bolsonaro, nada cola nele. E a rejeição a Fernando Haddad, que galopa na mesma velocidade da transferência de votos de Lula, pode ajudar com os pontos que faltam.