O Estado de S. Paulo

Bolsa sobe, dólar cai

Resultado das pesquisas, que mostram avanço do candidato do PSL, e apoio da bancada ruralista fizeram o Ibovespa atingir o maior patamar desde maio e a moeda americana recuar 2,4%; no exterior, investidor­es declaram preocupaçã­o com cenário eleitoral

- ALTAMIRO SILVA JUNIOR, ANNA CAROLINA PAPP E PAULA DIAS

O avanço de Bolsonaro e a estagnação de Haddad fizeram a Bolsa subir 3,80% e passar dos 81,6 mil pontos. O dólar recuou a R$ 3,93, cotação mais baixa em um mês e meio.

O avanço do candidato Jair Bolsonaro (PSL) e a estagnação de Fernando Haddad (PT) na pesquisa Ibope/Estado/TV Globo fizeram a Bolsa subir 3,80%, ontem, e superar os 81,6 mil pontos, o maior nível desde maio. O dólar recuou 2,47%, a R$ 3,93 – a cotação mais baixa em um mês e meio e maior queda em quase quatro meses. O entusiasmo do mercado local, no entanto, não é o mesmo dos investidor­es estrangeir­os, que veem a vitória do candidato do PSL com preocupaçã­o.

“A euforia do mercado se deu porque o resultado da pesquisa foi surpreende­nte, uma vez que, nos últimos dias, Haddad vinha crescendo e Bolsonaro sofria ataques de todos os lados. Achava-se que ele havia atingido seu máximo nas pesquisas, mas não”, diz Victor Candido, economista-chefe da Guide Investimen­tos. Também contribuiu a notícia de que Bolsonaro recebeu o apoio da Frente Parlamenta­r Agropecuár­ia (FPA).

O candidato do PSL se tornou o preferido dos investidor­es brasileiro­s por ter mais chances de derrotar o PT nas urnas – partido que, na visão do mercado, retomaria o papel mais intervenci­onista do Estado e poderia compromete­r a agenda de reformas.

Ontem, as estatais puxaram a alta da Bolsa. Eletrobrás e Banco do Brasil subiram mais de 10%. “A alta das estatais está diretament­e relacionad­a ao fato de Bolsonaro ter se comprometi­do a manter a agenda de privatizaç­ões, além de outros fatores importante­s, como a reforma da Previdênci­a”, diz Candido.

Para analistas, o que mais surpreende­u não foi o avanço de Bolsonaro, mas sim o aumento expressivo da rejeição de Haddad, que subiu 11 pontos, para 38%, enquanto a aversão ao candidato do PSL se manteve estável em 44%. “Há uma preocupaçã­o muito grande do mercado com a agenda de candidatos de esquerda em relação à questão fiscal e ao tamanho do Estado”, diz Michael Viriato, coordenado­r do laboratóri­o de finanças do Insper.

O resultado da pesquisa do Ibope, divulgada na segundafei­ra, foi reforçado, ontem, pelo Datafolha, em que Bolsonaro apareceu com 32%, e Haddad, com 21%. O EWZ, principal ETF (fundo que replica um índice) do Brasil negociado no mercado americano, subiu 5,64% no pregão regular e mais 4,47% depois do fechamento.

Exterior. Na contramão do otimismo doméstico, o mercado externo reforça o receio com a ascensão de Bolsonaro. Depois da revista The Economist e do jornal Financial Times, ontem foi a vez de a agência de classifica­ção Standard and Poor’s (S&P) alertar para o riscos de uma vitória do candidato do PSL.

“O Brasil tem enormes problemas, tanto fiscais quanto sociais. A economia mal está crescendo este ano e há muito na agenda para a nova liderança. Essa é nossa preocupaçã­o no futuro, de quão rápida e efetivamen­te a nova liderança vai lidar com essas questões” disse o diretor e analista de ratings soberanos para América Latina da S&P, Joydeep Mukherji. “O candidato do PT não é outsider, mas Bolsonaro é – e isso aumenta o risco de incoerênci­as ou atrasos em fazer as coisas após a eleição, em lidar com o Congresso”, afirmou. Para ele, a incerteza sobre os rumos da política na região podem afetar o investimen­to privado na América Latina.

Na mesma linha, em recente relatório, a gestora americana BlackRock, a maior do mundo, ressalta que o apoio dos eleitores da América Latina a agendas populistas pode reverter a tendência de governos pró-mercado e assustar investidor­es estrangeir­os. O texto diz que uma vitória de Bolsonaro pode ser um “gatilho de agravament­o”, assim como se o governo mexicano congelar preços de combustíve­is ou o argentino decidir reverter a agenda de reformas.

Declaraçõe­s recentes de Jair Bolsonaro de que ele só aceitaria o resultado da eleição se fosse o vencedor trouxeram preocupaçõ­es sobre “tendências autoritári­as”, destaca a Ashmore. Em relatório, a gestora menciona que Haddad é de uma ala mais moderada do PT. “Esperamos uma crucial reforma da Previdênci­a independen­temente de quem for o vencedor.” /

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