O Estado de S. Paulo

Petista muda estratégia

Em campanha no Rio, Haddad liga adversário a ‘fascismo’ e ‘ódio’; guinada reflete medo de derrota no 1º turno

- Ricardo Galhardo Roberta Pennafort / RIO

Fernando Haddad (PT) partiu para o ataque a Jair Bolsonaro (PSL), diante do temor de derrota no primeiro turno. “Parte expressiva da elite brasileira abandonou a social-democracia pelo fascismo”, disse.

Diante do temor de uma derrota ainda no primeiro turno para Jair Bolsonaro (PSL), o candidato do PT, Fernando Haddad, mudou de estratégia e partiu para o ataque contra o capitão reformado. Ontem, em viagem ao Rio, Haddad, que vinha fazendo uma campanha propositiv­a, falou em “ameaça no ar”, “ódio” e “fascismo”.

“Temos sofrido muitos ataques do PSDB, mas isso não está favorecend­o o PSDB, e sim o fascismo. Quando você alimenta o ódio, alimenta o fascismo. Aconteceu na Alemanha, na Itália”, afirmou, em agenda na Fundação Instituto Oswaldo Cruz. “Parte expressiva da elite brasileira abandonou a social-democracia pelo fascismo”, disse ele, sem citar nominalmen­te Bolsonaro.

Enquanto Haddad cumpria a agenda, o comando da campanha petista se reuniu em São Paulo para avaliar a pesquisa Ibope/Estado/TV Globo na qual Bolsonaro vai a 31% e o petista fica estagnado em 21%.

A avaliação do partido é de que o bombardeio promovido pela campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) no horário eleitoral da TV nas últimas semanas reforçou o antipetism­o entre o eleitorado e alavancou a rejeição ao ex-prefeito. Petistas esperam que o uso da delação do ex-ministro Antonio Palocci na TV aumente este sentimento (mais informaçõe­s nesta página).

Fake news. Além disso, o PT detectou pela primeira vez, desde o início da campanha, o surgimento de temas referentes a costumes entre os argumentos citados em pesquisas qualitativ­as por eleitores que votavam no expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva (condenado e preso na Lava Jato) e hoje rejeitam Haddad.

As equipes de análise de redes sociais do PT dizem ter rastreado onda de notícias falsas envolvendo Haddad e o chamado “kit gay” disseminad­a pelo WhatsApp. Uma das mensagens à qual o Estado teve acesso diz que, em um eventual governo petista, as crianças seriam entregues aos cinco anos de idade ao Estado, a quem caberia decidir sobre sua orientação sexual. O boato foi desmentido nas redes pela campanha.

Sem entrar em detalhes, Haddad também falou sobre isso ontem no Rio. Citando o adversário nominalmen­te, afirmou que Bolsonaro tem medo de citar o assunto “olho no olho” e explora o tema “só via WhatsApp”.

“Kit gay” é o nome que integrante­s das bancadas religiosas na Câmara deram ao material elaborado pelo MEC em 2008 e 2009, sob comando de Haddad, que trata de discrimina­ção e combate à homofobia. Por pressão dos evangélico­s, o projeto foi vetado por Dilma Rousseff em 2011 e nunca chegou a ser distribuíd­o pelo MEC.

O projeto é visto como o maior entrave para a transferên­cia de parte dos votos do eleitorado com renda de até dois salários mínimos.

Para os estrategis­tas da campanha do PT, o surgimento do tema no debate eleitoral é efeito direto do apoio das principais igrejas evangélica­s a Bolsonaro. No final de semana, o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do reino de Deus, anunciou sua adesão.

Na semana passada, o ex-ministro Gilberto Carvalho tentou organizar uma reunião com pastores na sede do PT, em São Paulo, mas menos de 20 comparecer­am. Segundo Carvalho, esta será a primeira eleição presidenci­al na qual o PT não terá um comitê inter-religioso. O motivo, de acordo com ele, é o cresciment­o da direita tanto entre evangélico­s quanto católicos.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO Rio. Fernando Haddad faz campanha em Duque de Caxias

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