O Estado de S. Paulo

Reino Unido acabará com livre circulação de europeus

Segundo governo britânico, objetivo é reduzir entrada de pessoas ‘pouco qualificad­as’

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

Europeus do continente não terão mais prioridade para entrar no Reino Unido após a concretiza­ção do Brexit, o divórcio da União Europeia. A diretriz faz parte da nova política imigratóri­a anunciada ontem pela primeira-ministra britânica, Theresa May, na conferênci­a anual do Partido Conservado­r. Pelo plano, a livre circulação de cidadãos do continente acabará após a saída de Londres do Espaço Schengen.

Ontem, May anunciou que os europeus serão tratados como qualquer outro imigrante antes mesmo do fim das negociaçõe­s entre Reino Unido e UE. Hoje, os cidadãos europeus não enfrentam barreiras se quiserem viver e trabalhar no país. Essa situação permanecer­á inalterada entre abril de 2019 e dezembro de 2020. Ao final do prazo de carência estabeleci­do entre Londres e Bruxelas, a nova legislação passará a ser aplicada. O objetivo do fim da área da livre circulação é “reduzir a imigração de pessoas pouco qualificad­as”, um dos focos de insatisfaç­ão da opinião pública britânica e um dos fatores decisivos no referendo de junho de 2016.

“Quando deixarmos a UE, adotaremos um sistema de imigração que colocará fim, de uma vez por todas, à livre circulação”, informou o governo ontem em nota oficial. “Será um sistema com base na competênci­a dos trabalhado­res, não em suas origens. Esse novo sistema permitirá reduzir a imigração de pessoas pouco qualificad­as.”

O principal critério de seleção será, se o plano for aprovado, a capacidade financeira para viver no Reino Unido sem necessitar ocupar postos de trabalho que poderiam ser pretendido­s pelos trabalhado­res britânicos. Segundo o governo, uma vez adotado, “o sistema colocará o Reino Unido no caminho da imigração reduzida a níveis estáveis, como prometido”. Em seu programa de governo, May havia prometido reduzir o “saldo migratório” – a diferença entre chegadas e partidas – a menos de 100 mil pessoas por ano, frente a 273 mil em 2016.

O plano pretende reduzir a pressão da ala eurocética e ultraconse­rvadora de seu partido, liderada pelo ex-ministro das Relações Exteriores Boris Johnson. Mas, ao endurecer o discurso sobre imigração e propor o fim de um dos quatro pilares da UE, a premiê criou um novo atrito com Bruxelas.

Impasse. Para o presidente da Comissão Europeia, JeanClaude Juncker, o Reino Unido não poderá escolher fazer parte do mercado de livre- comércio se não aceitar a livre circulação de pessoas.

Juncker deu a entender que a cúpula de outubro da UE poderá ser decisiva para as negociaçõe­s e o bloco vai se esforçar por um entendimen­to com Londres, apesar das dificuldad­es crescentes. Na prática, a decisão de May dá mais um indício de que as negociaçõe­s do Brexit caminham para o agravament­o do impasse atual.

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TOBY MELVILLE/REUTERS Restrição. May na convenção do Partido Conservado­r

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