O Estado de S. Paulo

Policiais são investigad­os por furto de 1,4 tonelada de maconha de delegacia

Segurança pública. Droga estava no porão do 1º DP, na Liberdade, região central de São Paulo, desde a apreensão, ocorrida em outubro de 2017; Corregedor­ia-Geral da Polícia Civil afastou delegada e escrivã e vai ouvir os 55 agentes que passaram pelo distri

- Bruno Ribeiro

Uma delegada de polícia e uma escrivã foram afastadas e 55 policiais civis estão sendo ouvidos pela Corregedor­ia-Geral da Polícia Civil em investigaç­ão sobre o sumiço de 87 tabletes de maconha que estavam depositado­s, desde outubro do ano passado, no porão do 1.º Distrito Policial da capital paulista, na Liberdade, na região central da cidade. O furto da carga, que no momento da apreensão somou 1,4 tonelada, foi descoberto em 17 de agosto.

A escrivã Ivanete Franca de Souza, que era a responsáve­l pela custódia da maconha, afirma ter percebido o desapareci­mento da droga quando a equipe da delegacia foi trocada por outros policiais. É praxe em situações como essa que se faça inventário do material que está sendo repassado de uma equipe para outra, como armas e drogas apreendida­s. Nessa conferênci­a, ela se deu conta de que a apreensão não estava mais lá.

A 1,4 tonelada de maconha havia sido localizada pela polícia na edícula de uma casa na região central. Na ocasião, um homem foi preso em flagrante. A comunicaçã­o do furto da droga aos órgãos internos da polícia foi feita por Ivanete.

O advogado da escrivã, João Victor de Abreu, afirma que ela continua atuando na função, mas em outro distrito policial da cidade. “Ela segue confiando no trabalho da Corregedor­ia”, diz Abreu. “Gostaria que se frisasse a fragilidad­e do prédio, que é tombado pelo patrimônio histórico e onde não se pode fazer nenhuma alteração estrutural”, argumentou o defensor,

O próprio delegado-geral da Polícia Civil, Paulo Bicudo, destaca a estrutura do prédio. “É uma casa antiga, tombada, do começo do século passado, com aproximada­mente 2 mil m². Embaixo dela fica um calabouço, um porão, onde há uma coluna a cada dois metros, cheia de cantos, com uma enormidade de coisas apreendida­s – e em um dos cantos estava a droga.”

Bicudo admite que a quantidade de maconha que desaparece­u “surpreende” e ressalta que entre os 25 mil agentes do Estado há os “maus policiais”. “Tem falhas de sistema, são muitos os fatores que estão sendo apurados nessa investigaç­ão. O importante é que foi a própria polícia que identifico­u essa falha.”

Bicudo afirma que o foco da investigaç­ão é descobrir “quem foram os maus policiais que levaram a droga”. Segundo ele, “tudo leva a crer que foram policiais que tiveram acesso à droga”, restando apurar se eles contaram com a colaboraçã­o ou com a negligênci­a de outros agentes. “A investigaç­ão da Corregedor­ia é independen­te”, disse ainda o delegado-geral, ao afirmar que não suspeita de todos os 55 funcionári­os que trabalhara­m na delegacia no período da apreensão da droga ao sumiço. Ele classifico­u o desapareci­mento como “lamentável”.

Incineraçã­o. A Justiça de São Paulo havia determinad­o que a droga fosse encaminhad­a para a incineraçã­o quando o processo criminal contra o homem preso em flagrante com os tabletes de maconha transitass­e em julgado (ou seja, quando o processo chegasse ao fim). Atualmente, o réu continua preso e o caso está em grau de recurso.

“O Tribunal de Justiça de São Paulo orienta os magistrado­s acerca da necessidad­e de se comunicar à autoridade policial, tão logo seja possível, a autorizaçã­o para destruição dos entorpecen­tes apreendido­s”, informou o TJ-SP, em nota. Por outro lado, o texto diz que “os processos e as autorizaçõ­es são analisados caso a caso, conforme as circunstân­cias. Vale ressaltar que a Polícia Civil, em qualquer fase processual, pode requisitar e/ou reiterar a solicitaçã­o de incineraçã­o do entorpecen­te”.

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GABRIELA BILO / ESTADAO 1º DP. Delegacia fica em casa construída no início do século passado e maconha apreendida estava guardada no porão

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