DEBATE ABORDA OS DESAFIOS DO EMPREENDEDORISMO
Entre os obstáculos apontados estão excesso de leis, alta carga tributária e burocracia. Esta última pode ser superada com ajuda da tecnologia
É difícil empreender no Brasil? Se for considerado que há mais de 6,4 milhões de empresas no País, uma resposta negativa parece óbvia. Mas por trás desse número grandioso, existe uma realidade repleta de obstáculos, como burocracia excesso de leis e de tributos. Para discutir a questão, o Media Lab Estadão reuniu Marcelo Lombardo, CEO e fundador da Omie; Kip Garland, diretor da consultoria Innovation Seed; e Renato analista financeiro da Top People, especializada em trade marketing, recrutamento e seleção. O debate, realizado em 27 de setembro, teve transmissão ao vivo nas redes sociais do jornal.
Legislação complexa
A complexidade do sistema legislativo foi apontada pelos participantes como uma das maiores barreiras enfrentadas por quem decide empreender. “Sabe quantas normas foram publicadas da Constituição de 1988 para cá? Mais de 5,4 milhões”, criticou Lombardo.
Estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação mostrou que, só de normas tributárias, foram editadas — nas esferas municipal, estadual e federal — 363.779 até setembro de 2016, algo em torno de 31 por dia ou 1,29 por hora.
Em média, cada uma delas “tem 11,23 artigos; cada artigo tem 2,33 parágrafos, 7,45 incisos e 0,98 alínea. Assim, foram editados neste período 4.085.239 artigos, 9.518.606 parágrafos, 30.435.029 incisos e 4.003.534 alíneas”, segundo o levantamento. “Ninguém, nem o contador, gosta disso. É bastante difícil saber como pagar um tributo da forma correta”, destacou o CEO da Omie.
Já o norte-americano Kip Gar- land, que atua com projetos de inovação no Brasil há mais de 15 anos, mencionou que em geral as empresas no exterior lidam com sistemas mais simples de fiscalização e tributos. “Por aqui, pagamos mais impostos, estamos submetidos a mais regras e temos um número de players envolvidos muito maior. É um país que criou uma complexidade inacreditável. Precisamos deixar o empreendedor fazer o negócio dele, que não é tributo e conciliação. É atender o cliente e vender.”
“Braço direito”
E foi justamente em um esforço para reduzir o tempo que o empresário dedica a tarefas burocráticas que Lombardo resolveu criar um software de gestão voltado para os pequenos e médios negócios. A ideia de investir nesse segmento surgiu anos atrás, a partir da percepção de que emRibeiro, presas de menor porte teriam de se organizar e ser mais profissionais para manter a competitividade. “Oferecemos um serviço que antes só estava disponível para os grandes. Por uma mensalidade fixa, é possível ter acesso a um sistema que auxilia na gestão de ponta a ponta. E o bacana é que é tudo na nuvem. Onde você estiver, pode acessar com total segurança e acompanhar toda a vida da sua empresa”, enfatizou.
Facilidade
A Top People experimentou esses benefícios na prática. Cliente da Omie desde 2016, a empresa de São Paulo já percebe ganhos em eficiência. “É uma ferramenta intuitiva que facilita toda a parte de fluxo de caixa, adiantamentos, reembolso. Isso nos trouxe um aumento médio de 30% na produtividade”, afirmou Renato Ribeiro.
Negócios que lidam com estoques e têm um grande volume de compras e vendas são os que mais ganham com a automatização, de acordo com Marcelo Lombardo. “Uma pequena distribuidora que emite dez notas fiscais por dia precisa de 18h de trabalho para fazer isso ‘na mão’, ou seja, dois funcionários. Se usar o software, o tempo cai para 51 minutos”, exemplifica.
“Uma pequena distribuidora que emite dez notas fiscais por dia precisa de 18h de trabalho para fazer isso ‘na mão’, ou seja, dois funcionários. Se usar a automação do software, cai para 51 minutos” Marcelo Lombardo, CEO e fundador da Omie
“Precisamos deixar o empreendedor fazer o negócio dele, que não é tributo e conciliação. É atender o cliente e vender” Kip Garland, diretor da consultoria Innovation Seed