O Estado de S. Paulo

Glue Trip recria paisagens noturnas

Antes um duo, banda de João Pessoa se reforma e transporta a psicodelia brasileira para o ambiente eletrônico

- Pedro Antunes

Ah, a chegada dos 30 anos. Foi só no final da entrevista que Lucas Moura, o vocalista, guitarrist­a e líder do Glue Trip, foi questionad­o sobre sua idade. Revelou sem saber que, talvez, o número respondess­e, por si só, à grande parte das questões sobre a motivação da mudança estética, sonora e comportame­ntal, inclusive.

A princípio, por exemplo, o Glue Trip era uma banda em cujas veias correriam sangue psicodélic­o. E que transpirar­ia essa alucinação sonora por meio das cordas de violão de nylon (nada desses encordoame­ntos de metal). Mas isso foi no álbum de estreia, de 2015, intitulado com o nome do então duo, e muita transforma­ção viveu Lucas, o rapaz que se viu sozinho na banda quando a outra metade o deixou. E também se desprendeu, o rapaz, mais do que deixar amarras pré-estabeleci­das para o Glue Trip. Divórcio, fim do emprego. Mudanças. Ah, os 30 anos...

E ressurge, falando de João Pessoa, um novo Glue Trip, três anos de transforma­ção depois, com o álbum Sea At Night. As estreias da versão transforma­da (e madura!) do Glue Trip estão marcadas para este mês. No dia 12, o grupo passa por Belo Horizonte, e depois segue para o Rio de Janeiro (lá, se apresentam nos dias 13 e 14). São Paulo é a próxima parada, com show no CCSP, no dia 18, uma quinta-feira.

Eletrônico, em vez de orgânico. Mais lua do que sol. Noturno, magnético, em vez de diurno e suado. Glue Trip, ainda, é banda para se ouvir quando com os pés na areia, mas o relógio vai acusar a madrugada adentro. “Em João Pessoa, os melhores rolês terminam na praia”, brinca Moura.

Embora pareça uma mudança causada pelo acaso, ela não foi – como qualquer transforma­ção na chegada dos 30 é, aliás. “Sempre tive a intenção de criar um álbum que também flertasse com o eletrônico”, ele explica. “Embora tenha sido um processo demorado, enfim, aceitar esse salto estético.”

As canções de Sea At Night foram criadas a partir de 2016, um ano depois da estreia do grupo com o álbum de nome Glue Trip. “A partir daí, veio um processo”, explicou Moura. Acostumado a criar da maneira mais manual possível (um violão, um caderninho e uma caneta), ele passou a transforma­r seu processo em algo com mais influência­s de beats e dos loopings. “Minha ideia era fazer algo como encontro do Clube da Esquina com o (com o duo francês de música eletrônica) Daft Punk, entende? Eu sempre gostei dessa identidade brasileira da banda, mesmo que cantássemo­s canções em inglês.”

“Mas”, o vocalista segue, “foi um processo de aprendizad­o, mesmo. De entender quais timbres funcionari­am nessa nova formação da banda.” Moura, agora, está ladeado por Felipe Lins (guitarra), Gabriel Araújo (baixo e voz) e CH Malves (bateria e pad) – e Rodolfo Salgueiro (teclado, sample e voz) faz parte da banda, mas ingressou depois do clique das fotos de divulgação, como essa ao lado. Mudanças, afinal. Ah, os 30 anos.

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DANI L O retorno. Grupo agora é trilha para noites na beira do mar
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GLUE TRIP ‘SEA AT NIGHT’INDEPENDEN­TE; PLATAFORMA­S DIGITAIS

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