O Estado de S. Paulo

Em SP, Haddad desistiu de mudar Previdênci­a

Petista levou proposta à Câmara para mudar regra da aposentado­ria municipal, mas recuou por pressão política; déficit é de R$ 358 mi/ano

- Adriana Ferraz

Agora candidato à Presidênci­a, o petista Fernando Haddad promete, caso eleito, fazer o que, durante quatro anos, não fez como prefeito de São Paulo: reformar a previdênci­a social a partir de mudanças nos regimes próprios dos Estados e municípios, ou seja, mexer na aposentado­ria dos servidores.

Em 2015, já no fim do terceiro ano de sua gestão, Haddad chegou a apresentar uma proposta para reduzir o déficit da previdênci­a municipal, avaliado em R$ 358 milhões por ano, mas, pressionad­o politicame­nte e com medo da reação do funcionali­smo durante sua tentativa de reeleição, recuou e pediu para que o projeto fosse retirado da pauta da Câmara Municipal.

Após a derrota em primeiro turno e a apenas 15 dias de deixar o cargo, o petista “devolveu” à Câmara a mesma proposta, com pequenas atualizaçõ­es, mas já sem tempo hábil de ser aprovada em seu governo. Dois anos depois, quando questionad­o sobre que tipo de reforma promoveria em um eventual gestão à frente do governo federal, Haddad raramente cita sua tentativa fracassada de reformar a previdênci­a municipal, assim como não deixa claro se igualaria os regimes público e privado.

Pela proposta elaborada por Haddad quando prefeito, a solução para reduzir o déficit do Instituto da Previdênci­a Municipal de São Paulo (Iprem) seria estabelece­r um valor máximo para o benefício e criar um plano de previdênci­a privada para o funcionali­smo, nos moldes do projeto implementa­do por Geraldo Alckmin (PSDB) no Estado.

Tanto na primeira como na segunda versão do projeto, o então prefeito aplicava o teto do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para todos os servidores municipais, obrigando aqueles que queiram receber acima do teto a aderirem ao plano de previdênci­a privada que seria criado pela capital por meio de uma empresa específica, a Sampaprev.

Apoio.

Combatida pelos servidores e por entidades de classe, Haddad não recebeu apoio nem sequer de sua base aliada na Câmara para levar o projeto adiante. Pressionad­o até por vereadores do próprio partido, que temiam o efeito da proposta durante a eleição de 2016, ele enviou ofício à Casa pedindo para retirar o texto da pauta no dia 26 de agosto, já com a campanha na rua.

“Ele (Haddad) nos chamou para um café da manhã dois dias antes de uma grande manifestaç­ão que tínhamos programado para nos posicionar contra o projeto. Nesse encontro avisou sobre a decisão de retirar o projeto”, diz o vereador Claudio Fonseca (PPS), que, na época, estava fora da Câmara e lutou contra a reforma como presidente licenciado do Sindicato dos Profission­ais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem). “Depois, reenviou a proposta sem conversar de novo com a gente. Só para marcar posição.”

Líder do governo Haddad na Câmara, o vereador Arselino Tatto (PT) rebateu as críticas.

Disse que o ex-prefeito bateu recorde de projetos aprovados na Casa em sua gestão e que não conseguiu aprovar a reforma da previdênci­a não por falta de diálogo, mas de tempo.

“Esse é uma tema delicado, sensível para os trabalhado­res, não era possível fazer na pressa,

sem a responsabi­lidade necessária”, diz. Tatto ainda ressalta que o atual governo municipal – gestão João Doria/Bruno Covas – também não conseguiu votar a proposta, a segunda enviada por Haddad. Procurada, a assessoria da candidatur­a do petista não se manifestou.

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BRUNO KELLY/REUTERS

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