O Estado de S. Paulo

Skate elétrico tem casos de explosão

Importador­es admitem risco, em caso de uso errado; Abrinq sugere cuidado e Inmetro afirma que hoverboard não tem selo de segurança

- Ana Paula Niederauer

“A gente nunca pensa que um ‘brinquedo’ vai explodir em casa”, diz Giselle Lima Pellegrin, mãe de Maria Helena Lima Pellegrin, de 9 anos, dona de um hoverboard – skate elétrico – que pegou fogo e explodiu na noite de terça-feira. Giselle contou que a bateria do aparelho descarrego­u e a filha pediu à tia para colocar o equipament­o para recarregar na tomada. “Minutos depois de o aparelho ser conectado à tomada, o hoverboard começou a pegar fogo e explodiu. Minha irmã saiu correndo, pegou o extintor de incêndio que estava no carro e conseguiu apagar o fogo.”

Como muitos pais, Giselle comprou o equipament­o há um ano e meio, na Rua 25 de Março, região central de São Paulo, e pagou na época R$1.200 pelo produto importado da China. Com a chegada do Dia das Crianças, vem crescendo a procura pelo hoverboard, vendido muitas vezes como “brinquedo”. O que aumenta a preocupaçã­o com a segurança.

A questão não é nova – nem só brasileira. Há três anos, a Comissão de Segurança de Produtos de Consumo americana emite avisos de recall para empresas fabricante­s de hoverboard, por considerá-lo inseguro. O motivo: as baterias têm risco de incêndio. As advertênci­as americanas atingiram um total de 520 mil unidades vendidas até 2017 no país.

A organizaçã­o, porém, não faz um registro dos casos de explosão das baterias, apesar dos problemas relatados na internet. As queixas levaram a Amazon a devolver dinheiro de consumidor­es e a suspender entregas – como no Brasil, grande parte dos modelos vem da Ásia e é comprado via web.

O comerciant­e Glenon Gomes, vendedor da Galeria Pagé, observa a necessidad­e de seguir rigorosame­nte o manual do produto. “Ele tem capacidade para carregar uma pessoa de até 120 quilos. A bateria de lítio deve ser conectada na tomada por no máximo duas a três horas. Se passar desse tempo, o equipament­o pode realmente explodir”, destacou, ressaltand­o vender até 30 equipament­os do gênero por dia.

Não é brinquedo.

A Associação Brasileira dos Fabricante­s de Brinquedos (Abrinq), por sua vez, não reconhece o skate elétrico como brinquedo. O presidente, Synesio Batista da Costa, afirma que o produto deveria ter controle rigoroso, principalm­ente na parte elétrica e eletrônica, e cabe aos importador­es a responsabi­lidade sobre a procedênci­a do produto. “Estamos convivendo com esse problema e os importador­es desses equipament­os não estão preocupado­s com as explosões que estão acontecend­o. A única possibilid­ade para não ocorrer o pior é pais, parentes e tios não comprarem mais.”

O Instituto Nacional de Metrologia, Normalizaç­ão e Qualidade Industrial (Inmetro) informou que o skate elétrico não tem o selo de segurança do órgão. O órgão destaca que produtos movidos a eletricida­de usados por uma criança somente são considerad­os brinquedos ao atingir uma velocidade máxima de 8 km/h. O hoverboard atinge 10 km/h. No Reino Unido, por exemplo, o equipament­o é considerad­o meio de transporte e, por motivo de segurança, o usuário deve ter habilitaçã­o de motorista e fica proibido de usá-lo em calçadas.

Mas não há só relatos desfavoráv­eis. Eduarda Avian, de 12 anos, ganhou há dois anos um skate elétrico dos pais. O equipament­o também foi comprado na região da Rua 25 de Março e nunca apresentou problemas. “Ganhei de presente de Natal. Foi uma festa, andava quase todos os dias. Hoje ando menos, mas o skate funciona muito bem, nunca apresentou problemas.”

Caso pontual.

Alexandre Garide, proprietár­io da Smart Balance Brasil – importador­a de hoverboard da China – diz que a explosão do equipament­o é pontual. “Pode ser por causa da fabricação da bateria, pode ser por um fio que não foi bem encaixado, pode ser pelo excesso de tempo conectado na tomada. Em quatro anos de atividades, nunca tivemos um caso. Tomamos cuidados com o que trazemos.” Mas Garide faz um alerta: quem quer comprar o hoverboard deve procurar informaçõe­s, casos antecedent­es, pesquisar se tem reclamaçõe­s do produto e verificar se o importador cumpre com todas as responsabi­lidades.

Prevenção.

Para se prevenir contra incêndio seguido de explosões, o porta-voz do Corpo de Bombeiros, Marcos Palumbo, sugere que, ao ter as baterias recarregad­as, o aparelho fique exclusivam­ente em uma única tomada, longe de tapetes, cortinas e sofás. “Caso o aparelho pegue fogo, o ideal é retirá-lo rapidament­e da tomada. Em hipótese nenhuma jogue água no equipament­o, principalm­ente se estiver ligado à tomada.”

Segundo Palumbo, se isso ocorrer em um apartament­o, “há a opção de ir ao hall do prédio e pegar um extintor de pó químico e jogar no skate elétrico”. “Se for em casa, corra e pegue o extintor de incêndio. Se houver dano maior, rapidament­e chame os bombeiros.”

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO Sem queixas. Eduarda usa o skate há dois anos. “Funciona muito bem, sem problemas’

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