O Estado de S. Paulo

Ações de fabricante de armas dobram

Valor dos papéis da Forjas Taurus foi de R$ 139 mi a R$ 332 mi em dois meses; período coincide com cresciment­o de Bolsonaro nas pesquisas

- Dayanne Sousa

Mais de cinquenta vezes em dois meses. Esse foi o cresciment­o do volume de transações na Bolsa envolvendo uma ação que, até pouco tempo, não figurava entre as principais movimentaç­ões no mercado: a da fabricante de armas de fogo Forjas Taurus. No mesmo período, o valor dos papéis preferenci­ais mais que dobrou e o de mercado da empresa saltou de R$ 139,3 milhões para R$ 332 milhões. Tudo isso apesar de a companhia acumular prejuízos e dívida em alta.

As ações da Forjas Taurus têm ganhado atenção no mercado em meio ao cenário eleitoral. Desde o início da campanha em rádio e TV – dia que marca a entrada do debate político nas atenções do público – o volume negociado das ações preferenci­ais da empresa de armamentos aumentou de R$ 255 mil ao dia para mais de R$ 14 milhões. O preço do papel, que no primeiro dia de campanha era de R$ 2,34, chegou hoje aos R$ 4,98.

No mercado, há quem ligue o movimento do papel à posição favorável de Jair Bolsonaro (PSL), candidato líder nas pesquisas de intenção de voto, ao armamento da população. Mesmo porque, o desempenho da ação da Forjas Taurus não encontra respaldo nos dados financeiro­s da companhia. No primeiro semestre de 2018, a empresa acumula prejuízo de R$ 92,6 milhões, perda mais de três vezes superior à verificada no mesmo período do ano passado.

Embora a receita com a venda de armas venha crescendo, a companhia está sendo impactada pelo aumento de despesas financeira­s, que cresceram 98% no segundo trimestre deste ano ante igual período do ano anterior, chegando a R$ 118,6 milhões. A companhia afirmou em seus resultados que a alta das despesas ocorre em função da valorizaçã­o do dólar ante o real.

Nesse sentido, a queda da divisa norte-americana, que veio junto com o bom desempenho de Bolsonaro nas últimas pesquisas, pode ter contribuíd­o para uma leitura melhor em relação à Forjas Taurus. Ainda assim, o endividame­nto da companhia vinha crescendo. A dívida líquida aumentou 12% em um ano, para R$ 805 milhões ao final de julho.

Sobre o endividame­nto, a companhia afirmou em julho que já houve assinatura de contratos para captação de recursos para o pagamento ou renegociaç­ão de dívidas.

É inevitável a associação do movimento com a ascensão nas pesquisas eleitorais do candidato à presidênci­a pelo PSL, que sustenta posição favorável ao armamento da população. Desde o início da campanha eleitoral até hoje, o auge de valorizaçã­o nos papéis ocorreu no dia 20 de setembro, quando a cotação das ações preferenci­ais chegou a R$ 5,30. O mercado repercutia o cresciment­o de Bolsonaro na pesquisa de intenção de voto que, naquela data, mostrava o candidato do PSL oscilando de 26% para 28% de intenção de voto.

Todo esse movimento, no entanto, é visto por alguns analistas como puramente especulati­vo. Até mesmo porque, o próprio Bolsonaro já falou que, se eleito, quebraria o monopólio da fabricante de armas, o que seria negativo para a empresa que fornece material para diversas polícias do Brasil. A empresa não retornou aos contatos de reportagem.

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