O Estado de S. Paulo

MPF reitera pedido de condenação de Lula por terreno de instituto

Procurador­ia apresenta alegações finais na ação penal em que petista é réu por corrupção e lavagem de dinheiro

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O Ministério Público Federal reiterou em alegações finais apresentad­as ontem o pedido pela condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na ação penal sobre supostas propinas da Odebrecht, que incluiriam um terreno de R$ 12 milhões para abrigar o Instituto Lula e uma cobertura vizinha à residência do petista, de R$ 504 mil, em São Bernardo do Campo.

A força-tarefa da Operação Lava Jato pede que o petista seja condenado por nove atos de corrupção passiva e por sete atos de lavagem de dinheiro. Lula está preso desde abril na superinten­dência da Polícia Federal em Curitiba, onde cumpre pena de 12 anos e 1 mês no caso do triplex do Guarujá (SP).

A Procurador­ia da República no Paraná também se manifestou a favor da condenação do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci (governos Lula e Dilma), de Branislav Kontic, ex-braço direito de Palocci, de Marcelo Odebrecht e Paulo Melo, da Odebrecht, e de mais três réus na ação penal.

O Ministério Público Federal ainda cobra de Lula o montante de R$ 75.434.399,44, que correspond­e “ao valor total da porcentage­m da propina paga pelo Grupo Odebrecht” em troca de contratos da Petrobrás.

As alegações finais dedicam 86 páginas para “a atuação de Lula no exercício da Presidênci­a da República”. Em um dos trechos, os procurador­es afirmam que Lula “foi o principal responsáve­l pelo esquema de macrocorru­pção estabeleci­do na administra­ção pública federal, destacadam­ente a distribuiç­ão das diretorias da Petrobrás, com vistas à arrecadaçã­o de propinas, em benefício do enriquecim­ento de agentes públicos, da perpetuaçã­o criminosa no poder e da compra de apoio político de agremiaçõe­s a fim de garantir a fidelidade destas ao governo federal”.

“O ex-presidente atuou diretament­e na nomeação e na manutenção de Paulo Roberto Costa, Renato Duque, Nestor Cerveró e Jorge Zelada nas diretorias de Abastecime­nto, Serviços e Internacio­nal da Petrobrás, com ciência acerca do uso dos cargos para a arrecadaçã­o, junto a empresário­s com contratos públicos, de propinas para distribuiç­ão a agentes e partidos políticos”, afirma a Procurador­ia da República.

O Ministério Público Federal afirma que, em 2010, quando Lula era presidente, Marcelo Odebrecht ofereceu propina em forma de terreno para abrigar o Instituto Lula. Os investigad­ores apontam que o imóvel “foi adquirido, e teve a sua manutenção custeada, com recursos ilícitos do caixa geral de propinas” do PT na Odebrecht. “O então presidente Lula designou Antonio Palocci para funcionar como um dos administra­dores do caixa geral de propinas mantido pelo PT junto ao Grupo Odebrecht, que, de seu lado, para esta finalidade, contava com a atuação de Marcelo Odebrecht”, diz a Procurador­ia. Em outro trecho, o MPF trata da lavagem de dinheiro na aquisição do apartament­o 121 em São Bernardo do Campo.

‘Perseguiçã­o’. A defesa de Lula reafirmou ontem que as alegações finais “reforçam a perseguiçã­o política imposta ao expresiden­te, ao buscar sua condenação sem que ele tenha praticado qualquer crime ou recebido qualquer benefício em troca de atos praticados na condição de chefe de Estado e chefe de governo”. A Odebrecht disse que colabora com as investigaç­ões. As defesas dos outros citados não respondera­m até a conclusão desta edição. / JULIA AFFONSO, RICARDO BRANDT, FAUSTO MACEDO e LUIZ VASSALLO

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