O Estado de S. Paulo

BNDES reduz exigência de conteúdo nacional

Cai de 60% para 30% a obrigatori­edade de peças locais; novas regras levam em conta esforço de inovação das empresas e nível de exportação

- Vinicius Neder / RIO

Em meio às mudanças em sua política de atuação, o BNDES vai adotar, a partir de dezembro, uma nova metodologi­a para calcular o conteúdo nacional das máquinas e equipament­os que podem ser comprados com financiame­nto da instituiçã­o. A exigência de conteúdo local nos produtos cairá dos atuais 60% para 30%. Isso significa, por exemplo, que, para uma máquina ser comprada com recursos do BNDES, ela terá que ter pelo menos 30% de componente­s, serviços e mão de obra nacionais.

Hoje, a metodologi­a foca apenas nas matérias-primas. As novas regras levarão em conta caracterís­ticas dos fabricante­s, como esforço de inovação e exportação.

Segundo o superinten­dente de Planejamen­to Estratégic­o do BNDES, Maurício Neves, será a maior mudança de regras de conteúdo local da história do banco. A nova metodologi­a começará a valer em 3 de dezembro, quando o Índice de Nacionaliz­ação (IN), criado em 1973, será trocado pelo Índice de Credenciam­ento (IC).

Para evitar soluços na transição, os cerca de 38 mil produtos credenciad­os atualmente, por aproximada­mente 4,8 mil empresas, manterão seu status, conforme as regras ainda vigentes. Segundo Neves, entre 2015 e 2017, o BNDES fez o recredenci­amento dos produtos, levantando dados necessário­s para testar a nova metodologi­a de conteúdo local.

O objetivo do credenciam­ento conforme o conteúdo local sempre foi garantir que o crédito do BNDES, cujos recursos vêm da receita de tributos, fosse direcionad­o para a indústria nacional. Quando uma empresa toma crédito no banco para investir em maquinário, caminhões ou ônibus, só pode adquirir bens que estejam na lista de credenciad­os. Para um bem de

capital entrar na lista, o fabricante precisa comprovar o conteúdo nacional mínimo.

Hoje, o BNDES exige que os produtos da lista tenham pelo menos 60% de matérias-primas nacionais, tanto em valor quanto em peso. Na nova metodologi­a, a exigência de conteúdo local do bem em si cairá para 30%. A medida, em valores, será feita pelo Índice de Estrutura de Produto (IEP), que inclui mão de obra direta e serviços.

Apesar da redução de exigência no produto em si, o Índice de Credenciam­ento (IC) terá de ser de 50%. O novo indicador é formado pela soma do IEP com cinco itens qualitativ­os: conteúdo tecnológic­o do produto, esforço de inovação, nível de exportaçõe­s, nível de qualificaç­ão técnica dos funcionári­os de toda a empresa (não apenas a mão de obra direta usada no produto) e o valor adicionado.

“Um ponto positivo é a flexibilid­ade que a nova metodologi­a traz para que as empresas possam optar por caminhos de credenciam­ento vinculados à sua estratégia”, afirmou Neves.

Flexibilid­ade. Uma empresa que hoje tenha produtos com 60% de matérias-primas nacionais apenas para cumprir a exigência do BNDES poderá ampliar o uso de insumos importados e compensar isso com os itens qualificad­ores. Para Neves, a nova metodologi­a permitirá aumento da competitiv­idade das empresas e cresciment­o do número de bens de capital credenciad­os, ampliando a competição. O resultado poderá ser redução de preços para o cliente final.

“Será melhor, porque (a nova metodologi­a) consegue mensurar esse esforço que as empresas fazem em inovação, que é intangível”, disse Giselle Rezende, gerente de financiame­nto da Abimaq, entidade que representa os fabricante­s de máquinas e equipament­os.

 ?? PAULO VITOR/ESTADÃO-6/5/2010 ?? Menor custo. Banco diz que empresas ficarão competitiv­as
PAULO VITOR/ESTADÃO-6/5/2010 Menor custo. Banco diz que empresas ficarão competitiv­as

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil