O Estado de S. Paulo

Bolsonaro planeja acelerar concessões, afirma general

Responsáve­l pelo plano de infraestru­tura diz, no entanto, que estatais estratégic­as, como Petrobrás e bancos, não seriam privatizad­as

- André Borges / BRASÍLIA

A lista de prioridade­s do candidato do PSL à Presidênci­a, Jair Bolsonaro, prevê que as concessões no setor de infraestru­tura sejam aceleradas e intensific­adas. O plano de privatizaç­ão da Eletrobrás seria mantido, mas a Petrobrás e “tudo o que for estratégic­o” não entrariam nesta lista, permanecen­do sob a tutela do governo.

Estatais como a Valec, da área de ferrovias, e a Empresa de Planejamen­to e Logística (EPL), que realiza estudos para concessões, teriam suas estruturas reavaliada­s, podendo até serem fechadas, em um processo de enxugament­o e corte de curtos. Na Amazônia, estudos de hidrelétri­cas que foram arquivados, como as polêmicas usinas no Tapajós, retornaria­m à mesa de negociação. Na arena ambiental, Ibama e Instituto Chico Mendes de Biodiversi­dade (ICMBio) seriam integrados em um único órgão.

Essas medidas estão sendo costuradas pelo núcleo duro da campanha de Bolsonaro, área que está sob o comando de Oswaldo de Jesus Ferreira, general que, do ano passado para cá, tem se convertido em um segundo “Posto Ipiranga” do candidato do PSL – forma como o economista Paulo Guedes, coordenado­r do programa econômico, passou a ser chamado, inclusive pelo próprio Bolsonaro.

Ao Estado, Ferreira falou sobre os principais planos e medidas que estão sendo analisadas pela cúpula para a área de infraestru­tura, caso seu candidato suba a rampa do Palácio do Planalto em janeiro. Ferreira, que até 2017 era Chefe do Departamen­to de Engenharia e Construção (DEC) e não conhecia Bolsonaro, diz que aceitou a “missão” do capitão reformado do Exército após “ser convidado para mudar o Brasil” (leia mais abaixo).

Energia. Segundo Ferreira, a privatizaç­ão da Eletrobrás e de suas coligadas será levada adiante num eventual governo Bolsonaro, apesar de toda a resistênci­a do Congresso em acatar a proposta e do próprio candidato já ter sinalizado que a ideia não lhe desce bem. A Petrobrás, no entanto, seria mantida nas mãos do governo. “Tudo o que é estratégic­o será mantido, como nossos campos de petróleo e gás”, disse o general. Nesta semana, Bolsonaro disse que “nem passa por nossa cabeça a palavra privatizaç­ão” de empresas estratégic­as, como Furnas, Caixa e BB.

Sobre energia, Ferreira declarou que continuari­a a apostar em hidrelétri­cas, além das fontes eólica e solar. O planejamen­to inclui a retomada das discussões dos projetos no Rio Tapajós, que foram arquivados pelo Ibama por obstáculos com questões indígenas e ambientais. Ferreira garantiu ainda que a usina nuclear de Angra 3 teria de ser concluída, apesar do alto custo do projeto, avaliado em R$ 17 bilhões. “Seria muito desperdíci­o desistir do projeto, isso afetaria toda a cadeia do setor. Tem de concluir o que começou.”

Logística. Nas ferrovias, o plano das tradings de grãos de levar adiante a proposta de construir a Ferrogrão, entre Mato Grosso e Pará, é visto com ceticismo pela equipe de Bolsonaro. A avaliação é de que a construção enfrenta resistênci­a ambiental e que o projeto prioritári­o para o escoamento agrícola deve ser a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), que corta o Mato Grosso, ligando-se à Ferrovia Norte-Sul. Na área de transporte­s, a cúpula de infraestru­tura entende ainda que a Valec poderia ser extinta ou absorvida pelo Ministério dos Transporte­s, enquanto a EPL poderia ter seus estudos incorporad­os pelo BNDES.

Na área de rodovias, a prioridade seria concluir a BR-163, no Pará, e a BR-319, entre Porto Velho e Manaus. Ferreira disse que, a despeito da aproximaçã­o do eventual governo Bolsonaro com militares, o departamen­to de engenharia do Exército não teria sua atuação ampliada, mantendo-se com perfil limitado para, apenas, “adestrar” seus soldados. “O Exército não vai competir com setor privado.” Meio ambiente. Ibama e ICMBio seriam um mesmo órgão, ou seja, toda a parte de proteção de unidades de conservaçã­o federal voltaria a ser função do Ibama. A área de licenciame­nto ambiental passaria por uma mudança profunda, com uma estrutura de funcioname­nto similar à da Advocacia Geral da União (AGU): servidores do Ibama seriam enviados para diversos órgãos, para cuidar de licenciame­ntos ambientais específico­s.

O general garantiu ainda que, a despeito do interesse do agronegóci­o na região amazônica, não seria permitida a expansão da produção de soja, milho e cana na região. “Sou um desenvolvi­mentista, não um ambientali­sta. Mas a Amazônia não é para isso. Seria uma grande burrice.”

 ?? DIDA SAMPAIO/ESTADÃO ?? Energia. General Ferreira diz que eventual governo retomaria projetos de hidrelétri­cas
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Energia. General Ferreira diz que eventual governo retomaria projetos de hidrelétri­cas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil