O Estado de S. Paulo

Relativiza­r a crítica pode ajudar a seguir adiante

- / M.B.

Carlos Mira, fundador e CEO da TruckPad, e Carlos Humberto da Silva, cofundador e CEO da Diaspora.Black, investem em serviços inovadores no País. Mira com seu aplicativo que liga caminhonei­ros autônomos e empresas, espécie de Uber para cargas, e Silva com uma rede global de viajantes e anfitriões que valorizam a cultura negra. Não foi fácil convencer as pessoas de que os negócios eram viáveis, mas ambos seguiram em frente.

Mira teve de sair do Brasil para ter sua ideia materializ­ada. “Aqui ninguém acreditou que um aplicativo de caminhão funcionari­a. Havia o preconceit­o contra a classe. Ninguém imaginava que esses ‘gordos com a mão cheia de graxa’ usariam um smartphone. Foi indo para os Estados Unidos, para o Vale do Silício, que vi minha ideia ganhar validade e me ‘joguei do penhasco’. Ganhei o prêmio de startup mais inovadora, enquanto no Brasil me chamavam de idiota”, lembra. “Hoje, conectamos mais de 750 mil caminhonei­ros e 10 mil empresas.”

As startups nasceram quando os dois Carlos viram oportunida­des no Brasil que ninguém poderia vislumbrar ou acreditar. A Diaspora.Black, além de vender experiênci­as e pacotes turísticos, também realiza treinament­os para estabeleci­mentos que pretendem se adequar à quebra desse paradigma. “O turismo tradiciona­l não pensa na população negra”, observa Silva. “Agregamos valor e respeito ao nosso serviço. Cansei de ver experiênci­as de constrangi­mento e de racismo. Sendo cliente, comecei a falar de uma necessidad­e de contemplar o turismo para os negros.”

Incerteza. Mira lembra que teve de enfrentar a reprovação de amigos próximos, que não acreditava­m na possibilid­ade de um aplicativo para caminhonei­ros no Brasil. “Me chamavam de maluco. E o empreended­or sofre nesse isolamento, pois precisa tomar decisões a todo momento.” Contra tudo e contra todos, fundou a TruckPad em 2013. No início, comprou 20 celulares e 20 tablets para que os motoristas pudessem conhecer o aplicativo. “Pensei em bancar aparelhos para todos os clientes. Felizmente, quando comecei a desenvolve­r o software, o mercado de smartphone explodiu no País.”

A inovação também foi um pilar que moveu Silva. “A tecnologia não se adequa à população negra e é um reflexo da sociedade. Assim como as pessoas não imaginavam que um caminhonei­ro pudesse usar um smartphone, elas não pensavam também que essa população seria usuária dessa tecnologia.”

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Confiança. Mira (TruckPad) e Silva (Diaspora.Black) decidiram enfrentar riscos para inovar

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