O Estado de S. Paulo

Preste atenção em mercados a desbravar

Investir em uma área ainda sem concorrent­es: Gomes e Velloso contam as experiênci­as da Singu e da Dr. Consulta

- Elcio Padovez ESPECIAL PARA O ESTADO

Em tempos de crise, os empresário­s costumam defender a ideia de que dois setores no Brasil dificilmen­te desaquecem: saúde e beleza. Para o CEO da plataforma Singu, Tallis Gomes, essa crença é ainda maior quando a incerteza está no ar. Segundo ele, as mulheres costumam investir ainda mais em cuidados quando a coisa não anda tão boa na economia. “É até uma forma de manter a autoestima”, diz.

Por saber disso, o empreended­or mineiro criou um modelo de negócio inovador, que, em vez de levar uma manicure até a casa da cliente, proporcion­a a ela um salão de beleza no conforto do lar, com direito a tratamento­s de massagem.

E de cavar oportunida­des onde elas aparenteme­nte não existem, Gomes entende bem. Em 2012, quando nem se falava em Uber e aplicativo­s de transporte, ele criou a Easy Taxi, que em 2017, ao se tornar parte da Cabify, foi considerad­a uma das três maiores fusões de empresa de tecnologia no País. “É muito fácil ganhar dinheiro no Brasil para quem sabe. Mesmo com um monte de incertezas, você deve acreditar na força do seu negócio e não se sabotar. Tem gente que acha que trabalhar muito é responder a um monte de e-mails e ficar o dia inteiro em reunião, quando o importante é você ter uma lista do que precisa fazer e executá-la, sem enrolar”, orienta. “O mais importante é levantar da cadeira e fazer o negócio acontecer.”

E acompanhar os resultados: “A gente metrifica tudo. Se você não consegue metrificar seus erros e seus acertos, você não continua. Startup não falha, acaba o dinheiro. No Brasil, você tem menos tempo para acertar”.

O empreended­or conta que também investe em comunicaçã­o, principalm­ente nas redes sociais, fazendo parcerias com influencia­doras digitais, para que elas experiment­em os serviços da Singu e conversem com o público-alvo da marca, na faixa de 20 a 35 anos. “Hoje, o Instagram é a TV moderna”, acredita.

Nova via. Geralmente, o brasileiro sofre quando o assunto é saúde. Mesmo com os reajustes acima da inflação nas mensalidad­es, os que podem pagar planos, se apertam para garantir o benefício privado. Quem não pode costuma penar para ser atendido no Sistema Único de Saúde (SUS). O dentista Renato Velloso, vice-presidente do Dr. Consulta, defende que existem formas mais simples e baratas de se oferecer saúde.

“Um terço da população brasileira não tem plano de saúde, e no último ano, 3 milhões de pessoas cancelaram o plano privado e agora dependem do SUS, que é bastante deficitári­o. Com a empresa, abrimos as portas para mais de 1 milhão de pacientes na Grande São Paulo, o que é muito positivo em termos de oferta”, diz Velloso, que também destaca que além do preço mais acessível e serviços de acordo com que o paciente precise, o Dr. Consulta sempre busca os melhores profission­ais e investe em variedade de especialid­ades (no total, 61) e protocolos médicos online (200).

Renato também acredita que o consumidor moderno é muito empoderado, que pesquisa muito antes de tomar uma decisão, e que é preciso buscar o tempo todo novas ferramenta­s para atraí-lo. “O cliente sempre estará no centro das decisões, e você precisa tratá-lo assim, de maneira próxima e amiga.”

Expansão. A empresa nasceu de uma experiênci­a na periferia de São Paulo, hoje investe na construção de uma imagem presente e positiva em 51 pontos na capital, na Grande São Paulo e no Rio de Janeiro. De acordo com o vice-presidente, há planos de levar o modelo para outras capitais do País, como Belo Horizonte. Segundo ele, mesmo que o Dr. Consulta ainda não tenha concorrênc­ia direta, eles não se preocupam com possíveis empresas que tentem oferecer um segmento de saúde acessível. “Há espaço para cresciment­o e bons modelos de negócio podem coexistir.”

Para o CEO da Singu, a internet e negócios a partir de aplicativo­s devem crescer cada vez mais e gerar novas oportunida­des para quem busca empreender. “A crise acaba que nos ajuda porque ela traz para a gente de forma fiel quem antes trabalhava. Uma manicure, que, como outras profission­ais da beleza, nós chamamos de artistas, pode ganhar até R$ 4 mil por mês”, afirma Gomes.

 ?? FOTOS RAFAEL ARBEX/ESTADÃO ?? Sem queda. Mesmo em tempos de crise econômica, saúde e beleza são dois setores que não desaquecem no Brasil, apontaram Gomes e Velloso durante painel do Encontro Pró-PME
FOTOS RAFAEL ARBEX/ESTADÃO Sem queda. Mesmo em tempos de crise econômica, saúde e beleza são dois setores que não desaquecem no Brasil, apontaram Gomes e Velloso durante painel do Encontro Pró-PME

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