O Estado de S. Paulo

Investimen­to em formação com inclusão

Isabela (Coffee Lab) e Juliana (Carambola) fomentam a valorizaçã­o das comunidade­s que são parte de seus negócios

- Marco Bezzi

Foi com o tempo que Juliana Glasser descobriu que a vocação da Carambola era a de formar pessoas. A empresa, hoje, tem a missão de transforma­r a vida de seus colaborado­res com oportunida­de de inclusão no mercado de Tecnologia da Informação (TI), um dos mais prósperos no mundo. “Quero ser um agente transforma­dor para as minorias”, ressalta Juliana.

Com essas credenciai­s, temas como “vocação” e “inclusão” se destacaram no painel que, além de Juliana, contou com Isabela Raposeiras, fundadora do Coffee Lab, espaço que reúne cafeteria de torras especiais e escola de barista.

Antes de fundar a Carambola, Juliana foi garçonete por muitos anos. A transição para a área de tecnologia foi árdua, mas os resultados podem ser medidos no total de projetos que a empresa já entregou desde 2011: mais de 80 para diversos segmentos e tamanhos. O trabalho de gestora de empresa, entretanto, veio com o tempo.

Juliana passou pelo centro de treinament­o da Microsoft e trabalhou em grandes empresas: “Não sabia nada, não tinha referência. Fui aprendendo com a Carambola. Já flexibiliz­ei a hierarquia, aumentei salários, baixei. A gente vive no Brasil, onde não é possível planejar tanto.”

Para Isabela, do Coffee Lab, é fundamenta­l ter vocação: “Sou também consultora e só aceito trabalhar com pessoas que tenham inclinação para o negócio”. Para a empresária, nem todo mundo tem a aptidão. “O varejo de alimentos e bebidas é um meio complexo, para um ganho muito baixo. Você paga a folha de pagamento com xícaras de café. O empresário que quer entrar nesse ramo precisa se olhar. Nós somos vistos como vilão, alguém que explora. E eu sou uma pessoa idealista, acredite.” Isabela diz que sua principal bandeira é incentivar os produtores de café. “Compro a saca por um valor cinco vezes maior, pois sei como eles são explorados.”

Para manter o padrão de qualidade, ela investe em treinament­o “desde o zero”. “Existe um probleminh­a com o empresário brasileiro: é preguiçoso. Contrata o funcionári­o e acha que já vem pronto, que não precisa formar. A nossa matéria-prima é humana, não o café.” E admite que exige muito dos funcionári­os. “Não tenho vergonha de ser rigorosa nem de escolher o meu cliente. No Coffee Lab servimos o café que eu acho ideal. Não perco tempo querendo agradar todo mundo”, justifica.

Para todos. Tanto no quadro do Coffee Lab como da Carambola há a inclusão de minorias. Isabela chegou ao ponto de lançar uma vaga só para transgêner­os. “Precisava acenar que eles podiam se qualificar a trabalhar comigo”, explicou. “Já cheguei a ter quatro trans entre os funcionári­os e percebi que há a necessidad­e de ensinar aos outros como se relacionar com eles, como respeitar suas escolhas.”

Juliana, que se revelou gay aos 19 anos, também busca manter na empresa variedade de gêneros e raça: “Diversidad­e é acolher. Para qualquer projeto que tenho monto trios, onde uma das pessoas vem de uma minoria. É muito importante conviver com o ‘diferente’. Já tive um colaborado­r com paralisia cerebral e aprendemos demais . Mas passar esse conceito para empresas maiores não é fácil. Existe uma vontade de fazer diferente, mas elas não sabem como.”

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FOTOS RAFAEL ARBEX/ESTADÃO Equilíbrio. Juliana explica que já flexibiliz­ou a hierarquia, aumentou salários, baixou e aprendeu na prática com a empresa

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