Gastronomia e música no foco dos negócios
Atala (D.O.M.) e Sandra (Palavra Cantada) não tinham empreender como meta, mas hoje estão à frente de grandes marcas
Uma ideia é importante quando se fala em empreender. Mas, além de tirar algo que vá se destacar no mercado, é preciso ter criatividade para gerir o próprio negócio. O chef Alex Atala (do restaurante D.O.M, eleito o 30.º mais importante do mundo, segundo a 50 Best) e a artista Sandra Peres (da dupla Palavra Cantada, que faz um sucesso enorme com o público infantil) usaram a vocação para encontrar caminhos e se destacar por meio da gastronomia e da música, respectivamente.
Sandra, junto com o parceiro musical Paulo Tatit, enxergou uma lacuna no tipo de música que se fazia no início dos anos 1990 e, em 1994, decidiram criar a Palavra Cantada, que desde o começo, buscou nas composições uma veia educativa e lúdica. “Nessa época, havia dois tipos de música para crianças. O das apresentadoras infantis, como a Xuxa e a Angélica, e o de canções do interior do Brasil. Nós passamos a ter um público cada vez mais urbano e não fazia sentido se cantar apenas o Boi da Cara Preta. No início, pensamos em músicas de ninar, só que muitas das mães que ouviam as canções nos diziam: meu filho não dormiu, mas a gente achou uma forma de permanecer mais tempos juntos.”
A parceria com Tatit, que dura 23 anos, e os 30 anos de carreira como artista fizeram Sandra ir mudando e trabalhando junto com a evolução de se distribuir música. “Nós precisamos acompanhar as novas tecnologias. Eu comecei distribuindo fitas cassetes, algo que hoje é totalmente impensável”, lembra Sandra. “Atualmente, a Palavra Cantada divulga grande parte do seu trabalho em plataformas digitais, e seguimos recebendo por isso.”
E os números realmente chancelam a forte presença deles neste território digital.
Valor e utilidade. Para Atala, que no início da década de 1990, foi morar na Europa para viver in loco a cena musical do continente, os trabalhos que ele arrumava em restaurantes da Bélgica, da França e da Itália, primeiro como garçom e, depois, como cozinheiro, serviam apenas para pagar as contas. Seu negócio era fazer e curtir um som. Mas, como ele próprio se define escolhido pela gastronomia, a vocação pelos sabores falou mais alto e a doma, tradicional vestimenta dos chefs, virou sua companheira.
Se engana quem pensa que nessa época, ser chef tinha o status “pop” que muitos dão neste momento aos profissionais da área. “Minha mãe contava que eu era garçom, porque chefe de cozinha era sinônimo de vergonha.” O cenário mudou radicalmente. Hoje, como destaca Atala, a gastronomia passou a ter papel central até na decisão dos destinos turísticos a visitar. Para ele, antes de tudo, o negócio precisa ter utilidade. “Eu não objetivei nada disso na minha vida, mas isso não quer dizer que eu não agarrei cada chance que eu tive. Para mim, a palavra valor faz toda a diferença.”
Sem glamour. Tanto Atala quanto Sandra não gostam do rótulo de que estão em ramos da moda. “Muita gente pensa que, se você é artista, vai chegar e vai estar tudo montado para você. Quando vamos estrear show novo, só de ensaios passamos de 100 horas”, pontua ela. Já Atala acompanha toda a cadeia do alimento, defendendo a valorização do produtor, e todos os processos dentro dos seus estabelecimentos. O chef está na linha de frente para criar receitas, algo que, segundo ele, é parecido com uma composição musical, pois leva tempo, é preciso achar a melodia e a harmonia.