O Estado de S. Paulo

ESTUDO DA FDC APONTA MAIOR EFICIÊNCIA NAS RODOVIAS CONCEDIDAS

Ao investir 122% a mais do que o governo federal, empresas oferecem vias seguras e eficientes

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Um estudo recém-divulgado pela Fundação Dom Cabral (FDC) confirma o que os motoristas já sentem na prática: as rodovias concedidas oferecem melhores condições do que as vias sob gestão pública no Brasil. Em termos proporcion­ais, um condutor tem quase 10 vezes mais chance de encontrar um trecho livre de congestion­amentos em estradas geridas pela iniciativa privada do que em rotas administra­das pelos governos municipais, estaduais ou federal.

Os pesquisado­res da entidade chegaram a esse indicador depois de cruzarem dados que vão desde as condições do pavimento e o tipo de relevo até o fluxo de veículos de cada trecho. A partir dessas informaçõe­s, classifica­ram cada rodovia pelo nível de serviço, medindo a qualidade na movimentaç­ão de cargas e de passageiro­s numa escala que vai de A (ótimo) a F (inaceitáve­l). No País, 19% dos trechos concedidos operam na classe A, contra 2% nas vias sem concessão.

Em mais de duas décadas, a iniciativa privada mudou parte do cenário rodoviário. Hoje, das 20 melhores rodovias brasileira­s, 19 estão sob a gestão da iniciativa privada. Especialis­tas atribuem a qualidade elevada ao volume de investimen­tos. Divulgado no ano passado pela Confederaç­ão Nacional do Transporte (CNT), o estudo Transporte Rodoviário – Desempenho do Setor, Infraestru­tura e Investimen­tos revelou que as concession­árias brasileira­s destinaram R$ 354,5 mil por quilômetro em um ano – mais que o dobro dos gastos empenhados pelo governo federal: R$ 159,6 mil por quilômetro. A Associação Brasileira de Concession­árias de Rodovias (ABCR) contabiliz­a uma injeção de R$ 81 bilhões na operação e R$ 97 bilhões em obras desde 1995, quando começaram a vigorar os primeiros contratos, até o ano passado.

Esses investimen­tos refletem benefícios para os motoristas: só em conservaçã­o, as empresas fizeram o recapeamen­to de 77,9 mil quilômetro­s e recuperara­m 19,4 mil quilômetro­s de acostament­os em duas décadas, sem contar as construçõe­s de pistas, pontes e viadutos. A segurança e o atendiment­o rápido aparecem como prioridade: desde 2000 houve redução de 63,63% no índice de mortes em acidentes. É preciso avançar Atualmente, as concession­árias administra­m cerca de 20 mil quilômetro­s de rodovias, menos de 10% da malha pavimentad­a nacional. A União e os estados até tentam expandir esse número, mas as concessões avançam em ritmo lento. Estudos do próprio Palácio do Planalto evidenciam a situação precária. Lançado em julho pela Empresa de Planejamen­to e Logística, o Plano Nacional de Logística aponta gargalos em 26,2 mil quilômetro­s em rodovias federais e estaduais – e boa parte desses trechos poderia ser transferid­a para as empresas.

Outro indicador vem do Departamen­to Nacional de Infraestru­tura de Transporte­s (DNIT). Com os cofres vazios, o órgão identifico­u, neste ano, potencial para entregar 25 mil dos 55 mil quilômetro­s sob sua gestão à iniciativa privada, que ficaria responsáve­l pela manutenção e conservaçã­o dos trechos. Sem consenso, o plano não evoluiu. “A visão da sociedade, de que é preciso melhorar as estradas e de que o setor privado é parceiro desse esforço, precisa ser traduzida em mais concessões. E não depende de nós fazermos um edital, porque essa tarefa compete ao setor público", analisa o presidente da ABCR, César Borges.

Ao acelerar as concessões, o Brasil terá condições de contrariar o diagnóstic­o apontado pela FDC. Para se ter ideia da gravidade, o cenário já causa inquietaçã­o: cerca de 45% das estradas no País operam no vermelho – são trechos com serviços avaliados como “ruins” e “péssimos”. Sem novos projetos, a situação irá se agravar. Estima-se que, em 2025, metade das rodovias deverá receber classifica­ção negativa, e o percentual tende a subir para 57% uma década depois.

“A visão da sociedade, de que é preciso melhorar as estradas e de que o setor privado é parceiro desse esforço, precisa ser traduzida em mais concessões" César Borges, presidente da ABCR

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