O Estado de S. Paulo

Pequim impõe nova imagem às Nações Unidas

- J.C.

A imposição de uma nova imagem chinesa na ONU, segundo diplomatas em Genebra, passa também por tentar imprimir a visão do mundo de Pequim. “Assim como os americanos após a 2.ª Guerra, a China considera que este é seu momento”, disse um experiente negociador, na condição de anonimato.

Em diversas organizaçõ­es, o dinheiro chinês se traduziu em votos. Na Organizaçã­o Mundial da Saúde, o novo diretor é um etíope, eleito com o apoio chinês. A ajuda da China fez a ONU silenciar diante de abusos. Em abril, a Human Rights Watch criticou o secretário-geral da ONU, António Guterres, por ter viajado a Pequim sem abordar direitos humanos.

Essa nova participaç­ão se reflete na imagem interna da ONU e em suas atividades. Em junho, a Assembleia-Geral teve seus trabalhos suspensos para que um seminário fosse realizado sobre a Rota da Seda, na China. Alguns meses antes, em Genebra, Pequim inaugurou uma enorme exposição sobre a caligrafia chinesa.

No entanto, a China não se limita a uma política de simbolismo­s. Nas resoluções que ela começa a propor, todos os textos vêm marcados por uma nova linguagem: a cooperação. A ordem é bloquear qualquer tipo de crítica a suas políticas e, sempre que houver dúvidas, promover a ideia de que nada é superior à soberania.

Tentando se distanciar das feridas abertas no massacre de Tiananmen, a China vem propondo novos textos aos debates e conseguiu até mesmo votos para ocupar um lugar no Conselho de Direitos Humanos, o mesmo acusado pela embaixador­a americana no Conselho de Segurança, Nikki Haley, de “hipócrita” em razão da presença de várias ditaduras.

Nos últimos meses, Nikki Haley promoveu uma pressão nas Nações Unidas para garantir um corte no orçamento das operações de paz promovidas pela ONU e, assim, reduzir a contribuiç­ão americana.

Em outro sinal de “ocupação da ONU”, a estratégia de Pequim é privilegia­r resoluções que promovam direitos coletivos, e não individuai­s.

Críticas. Para diplomatas, o avanço chinês é marcado pelo esforço de Pequim para silenciar qualquer tipo de crítica. Em março, no Conselho de Direitos Humanos, um dissidente chinês tomou a palavra, para o desespero da delegação da China. Assim que começou a falar, o diplomata chinês Chen Cheng tentou impedir o discurso, mas a direção não permitiu.

 ?? CRAIG RUTTLE/AP–25/9/2015 ?? Espaço. Nikki Haley, embaixador­a dos EUA
CRAIG RUTTLE/AP–25/9/2015 Espaço. Nikki Haley, embaixador­a dos EUA

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil