O Estado de S. Paulo

BOLSONARO, COM 46%, E HADDAD, COM 29%, DISPUTAM 2º TURNO

• CANDIDATO DO PSL VENCE EM 16 ESTADOS E NO DF • PETISTA FICA EM PRIMEIRO NO NORDESTE • BOLSONARO DIZ QUE ‘SEM PROBLEMAS NAS URNAS’ JÁ SERIA PRESIDENTE • HADDAD AGRADECE A LULA E ACENA A CIRO, MARINA E BOULOS

- Daniel Bramatti

Adisputa pela Presidênci­a da República será decidida no segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Após se consolidar no eleitorado antipetist­a e atrair desiludido­s com a política, o capitão reformado do Exército obteve 46,04% dos votos válidos (49,27 milhões) e venceu em 16 Estados e no Distrito Federal. Haddad conseguiu 29,27% dos votos válidos (31,32 milhões) e evitou que a disputa acabasse no primeiro turno com ajuda do Nordeste. Bolsonaro questionou o resultado e disse que vai ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Se tivéssemos confiança no voto eletrônico, já teríamos o nome do futuro presidente decidido no dia de hoje”, afirmou. Em discurso à noite, Haddad agradeceu ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e acenou para Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Guilherme Boulos (PSOL). Pela primeira vez desde 1994, o PSDB ficou fora da disputa do segundo turno contra o PT.

Jair Bolsonaro (PSL) saiu das urnas como o mais votado na eleição de ontem depois de se firmar como principal candidato do antipetism­o na campanha de 2018. Fernando Haddad (PT), por sua vez, conquistou a segunda vaga graças à associação a seu partido e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Pela primeira vez desde 1994, o PSDB não é o principal adversário dos petistas em uma eleição presidenci­al. A polarizaçã­o que marcou um quarto de século da política nacional deu lugar a outra, na qual Bolsonaro assume o protagonis­mo anteriorme­nte ocupado pelos tucanos.

Uma segunda tendência histórica ainda mais antiga foi rompida com a ascensão de Bolsonaro: é a primeira vez desde a redemocrat­ização que um defensor explícito do regime militar tem chances reais de ocupar o Palácio do Planalto.

Além de cortejar o eleitorado conservado­r com um discurso pró-religião, pró-armas e antiPT, o candidato se mostrou atrativo para a massa do eleitorado que despreza a política tradiciona­l e não se vê representa­da pelos grandes partidos.

Nas redes sociais, a quantidade de simpatizan­tes de Bolsonaro e o volume de engajament­o compensara­m de sobra a falta de acesso ao palanque eletrônico da televisão. No horário eleitoral gratuito, ele teve apenas 8 segundos em cada bloco de 12 minutos e 30 segundos. Praticamen­te sem estrutura partidária, o deputado e militar da reserva conseguiu incluir em sua coligação apenas o minúsculo PRTB.

Na terceira semana de campanha oficial, Bolsonaro ainda foi alvo de uma facada, ao participar de um evento de rua em Juiz de Fora (MG), no dia 6 de setembro. Passou por duas cirurgias e ficou 23 dias internado. Nesse meio tempo, teve de debelar crises provocadas por declaraçõe­s de seu candidato a vice-presidente, General Mourão (PRTB), e por seu conselheir­o econômico, Paulo Guedes.

O candidato foi também alvo da maior manifestaç­ão organizada por mulheres da história brasileira. Atos promovidos em torno do slogan “ele não” lotaram praças e avenidas das principais cidades do País no dia 29 de setembro. Enquanto isso tudo acontecia, Bolsonaro subia nas pesquisas – e ficava mais forte no segmento antipetist­a.

Regiões. Com 49,2 milhões de votos, o representa­nte do PSL teve desempenho melhor nas regiões onde, em eleições anteriores, o PT se saiu pior. Haddad, herdeiro político de Lula, venceu em redutos petistas – mas não em todos. No total, o candidato do PSL ficou à frente em 16 Estados e o petista, em nove. Ciro Gomes (PDT), terceiro colocado na disputa, liderou a contagem de votos apenas no Ceará, Estado que governou de 1990 a 1994 e que ontem lhe deu mais de 40% dos votos.

Bolsonaro teve 46,08% dos votos válidos, seis pontos porcentuai­s a mais do que tinha na véspera da eleição, segundo a pesquisa Ibope/Estado/TV Globo divulgada na noite do sábado.

Ele cresceu na reta final da campanha, mas não o suficiente para alcançar maioria absoluta (50% mais um) e encerrar a disputa já no primeiro turno.

Há um mês, Bolsonaro tinha a preferênci­a de 41% dos antipetist­as. Após a facada de que foi vítima em Juiz de Fora, no início de setembro, ele deu salto de 12 pontos porcentuai­s e chegou a 53%. De lá para cá, a curva de cresciment­o se manteve: 59%, 61%, 63% e, na véspera da eleição, 67%.

 ?? NILTON FUKUDA/ESTADÃO ?? Haddad. Candidato do PT acena a apoiadores após votar em escola de Moema, em São Paulo
NILTON FUKUDA/ESTADÃO Haddad. Candidato do PT acena a apoiadores após votar em escola de Moema, em São Paulo
 ?? WILTON JUNIOR/ESTADÃO ?? Bolsonaro. Candidato saúda fãs após votar em escola no bairro da Vila Militar, no Rio
WILTON JUNIOR/ESTADÃO Bolsonaro. Candidato saúda fãs após votar em escola no bairro da Vila Militar, no Rio
 ??  ??
 ?? GABRIELA BILO / ESTADÃO ?? Nova polarizaçã­o. Bolsonaro e Haddad vão protagoniz­ar um inédito segundo turno sem candidatos tucanos desde 2002
GABRIELA BILO / ESTADÃO Nova polarizaçã­o. Bolsonaro e Haddad vão protagoniz­ar um inédito segundo turno sem candidatos tucanos desde 2002
 ?? WILTON JUNIOR/ESTADÃO ??
WILTON JUNIOR/ESTADÃO
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil