O Estado de S. Paulo

Eliane Cantanhêde

- Eliane Cantanhêde

O PSDB sai da eleição profundame­nte derrotado, sem lideranças e com uma dúvida atroz: tem ou não condições de sobreviver?

Entre os mortos e feridos das eleições de 2018, não se salvam todos. Uma das vítimas mais atingida é o PSDB, que não só perdeu a Presidênci­a e agora a vaga no segundo turno das eleições como sai da eleição profundame­nte derrotado e com uma dúvida atroz: tem ou não condições de sobreviver?

Depois de se debater entre três líderes, o partido pode não ter nenhum. José Serra saiu do Itamaraty, refugiou-se no Senado e, aos 76 anos, não tem mais horizonte eleitoral. Aécio Neves implodiu sua imagem e seu futuro com o áudio em que pedia R$ 2 milhões para o empresário Joesley Batista. Geraldo Alckmin leva o troféu de pior desempenho tucano numa eleição presidenci­al.

Fernando Henrique Cardoso, o grande nome e a maior referência do PSDB, tem 86 anos e funciona hoje mais como um consultor, quase um terapeuta para tucanos com os nervos à flor da pele. Muito acima do partido, tem disposição próxima de zero para reabilitar o PSDB que o levou à Presidênci­a da República duas vezes, em 1994 e 1998.

Quem será, ou quem seria, um líder emergente capaz de providenci­ar uma tábua de salvação para o PSDB? Se o ex-prefeito de São Paulo João Doria pensou algum dia em ocupar esse espaço, pode tirar o cavalinho da chuva, depois de tentar solapar a candidatur­a do padrinho Alckmin, sair prematuram­ente da principal prefeitura do País e pular no barco Bolsonaro antes da hora.

Bolsonaro, aliás, pode ser considerad­o duplamente algoz do PSDB. Foi para ele que os votos tucanos voaram, primeiro do Sul e do Centro-Oeste, depois do País todo. E é em torno dele que o partido vive as dores, não do cresciment­o, mas do envelhecim­ento. Ainda no primeiro turno, tucanos já discutiam, ardorosame­nte, quem apoiar no segundo: Bolsonaro ou o petista Fernando Haddad, o novo ou o velho adversário­s de sempre? Ou seria melhor a “neutralida­de”?

Não havia, como não há, uma resposta para essa dúvida existencia­l dos tucanos, que se arrastam em círculos e consciente­s de que o partido não caminhará unido nem para um lado nem para o outro. Será cada um por si, cada um seguindo sua ideologia, seu interesse, suas prioridade­s. Isso, convenhamo­s, não é coisa de partido, mas de aglomeraçã­o, em que cada um faz o que quer.

Criado em 1988, sob os ventos da redemocrat­ização e da “Constituiç­ão Cidadã”, promulgada naquele ano, o PSDB reuniu os quadros considerad­os mais respeitáve­is, preparados e reverencia­dos do País: o próprio Fernando Henrique, que seria o primeiro e único presidente do partido; Mário Covas, que disputou, e perdeu, a primeira eleição direta após a ditadura militar; Franco Montoro, símbolo de ética e patrono dos principais tucanos; José Serra, economista e expresiden­te da UNE; José Richa e Euclides Scalco, do Paraná; Pimenta da Veiga, de Minas; Sérgio Motta, o “trator”, que transforma­va as formulaçõe­s intelectua­is em práticas, seja do partido, seja do governo FHC.

Alguns morreram, outros morreram politicame­nte, e o PSDB nem soube enaltecer e tirar proveito eleitoral da herança bendita de Fernando Henrique, nem soube investir em novas lideranças que arejassem o partido e lhe garantisse­m um futuro. Aécio e Alckmin, mais novos do que os demais, não deram conta do recado.

É assim que o PSDB chega ao momento mais dramático da política sem saber para onde correr. Ou se vale a pena correr. De tanto se engalfinha­rem, ele e seu antagonist­a PT se enfraquece­ram, se esvaziaram e são dois dos grandes responsáve­is pelo “fenômeno Bolsonaro”. E pelo que virá.

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