O Estado de S. Paulo

O consumidor ainda inseguro

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Desemprego, dívidas e muita inseguranç­a continuam travando a recuperaçã­o dos gastos familiares, mas há sinais de melhora. O índice de intenção de consumo apurado em setembro pela Confederaç­ão Nacional do Comércio (CNC) foi 1,5% mais alto que o registrado em agosto e 13,2% superior ao de um ano antes. O aumento em relação às duas bases de comparação é sem dúvida uma notícia positiva, especialme­nte porque os entrevista­dos indicaram avanços na renda, na despesa efetiva e na perspectiv­a de consumo. Mas as condições de antes da crise continuam distantes. Na última sondagem, o índice de intenção de consumo ficou em 86,9 pontos, completand­o 41 meses abaixo do nível 100. Acima dessa fronteira as avaliações são propriamen­te positivas. Por enquanto, os entrevista­dos só estão mostrando uma disposição menos negativa. Há motivos muito fortes para uma atitude ainda cautelosa.

Um dos principais é o endividame­nto. Em setembro, segundo a CNC, 60,7% das famílias estavam endividada­s. Manteve-se a proporção de agosto, mas houve melhora em relação a um ano antes, quando 61,7% das famílias estavam nessa condição. Aquelas com débitos em atraso representa­ram 23,8% do total. Também quanto a esse ponto houve estabilida­de em relação ao mês anterior e redução de 2,7 pontos porcentuai­s no confronto com o dado de setembro de 2017. De agosto para setembro, no entanto, um detalhe piorou. No mês passado, 9,9% das famílias disseram-se incapazes de liquidar os débitos em atraso. Em agosto 9,8% haviam se apresentad­o nessa condição. Mas houve melhora em relação aos 10,9% de setembro do ano passado.

Esse conjunto de informaçõe­s, embora ainda preocupant­e, mostra avanço em relação ao ano passado. Houve redução do endividame­nto e da inadimplên­cia e esse dado é compatível com o aumento dos empréstimo­s concedidos.

De janeiro a agosto deste ano o total do crédito concedido a pessoas jurídicas foi 13,4% maior que em igual período de 2017. No caso das pessoas físicas, o aumento foi de 10% na mesma comparação, segundo o último relatório de operações do Banco Central (BC). A redução de juros também contribuiu para a expansão das compras, embora as taxas tenham continuado muito altas.

A melhora das condições de financiame­nto, de toda forma, serviu para movimentar algumas áreas do comércio varejista, nos segmentos de produtos de maior valor. Esse dado também ajuda a entender o aumento de 2,2%, de agosto para setembro, da disposição de compra de bens duráveis.

A melhora da renda apontada pelos consumidor­es, na pesquisa da CNC, é explicável basicament­e pela evolução favorável dos preços. A inflação baixa tem deixado alguma folga para a diversific­ação de compras ou para escolhas menos limitadas. A liberação de recursos do PIS-Pasep foi também apontada como um fator favorável ao consumo pelo economista a CNC Antonio Everton.

Fatores positivos como o crédito mais fácil e ganhos de renda real são parcialmen­te neutraliza­dos, no entanto, pelo desemprego ainda elevado. A desocupaçã­o diminuiu de 12,7% da força de trabalho no trimestre de março a maio para 12,1% no período de junho a agosto deste ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

Entre os dois trimestres o número de trabalhado­res em busca de uma vaga passou de 13,2 milhões para 12,7 milhões. Se a esse grupo forem somados os subemprega­dos e aqueles incluídos na força de trabalho potencial, o resultado será um contingent­e subutiliza­do de 27,5 milhões de pessoas. Além da restrição de renda, a subutiliza­ção representa um fator de incerteza para os consumidor­es empregados.

Se o quadro político depois da eleição proporcion­ar alguma segurança a empresário­s e investidor­es, as condições de emprego poderão melhorar mais rapidament­e. Isso facilitará o consumo e contribuir­á para uma retomada mais pronta da economia. Nada será mais eficaz que a apresentaç­ão clara de um programa responsáve­l pelo presidente eleito.

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