‘Teste’ biométrico e redução de seções provocam confusão no RJ
Zonas eleitorais foram cortadas de 244 para 165 no Estado; TRE usa dados de eleitores do cadastro do Detran
Filas maiores do que de costume marcaram a votação no Rio, ontem. Segundo o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ), a espera prolongada foi reflexo de dois fatores: redução do número de zonas eleitorais e mais candidatos do que em anos anteriores. O uso de dados biométricos do Departamento Estadual de Trânsito do Rio de Janeiro (Detran-RJ), mesmo para eleitores que não fizeram o cadastro de digitais na Justiça Eleitoral, surpreendeu mesários e eleitores.
Isso ajudou a prolongar o tempo gasto pelos eleitores na urna. “No ano passado, o TSE baixou resolução determinando a extinção de diversas zonas eleitorais. Isso resultou no agrupamento de seções em outras zonas. Antes, eram 244 zonas eleitorais, hoje são 165”, explicou a diretora-geral do TRE-RJ, Adriana Brandão.
O convênio com o Detran exportou para o TRE-RJ dados de 4,6 milhões de eleitores que não fizeram o cadastramento biométrico, mas que estão na base de dados do órgão de trânsito, também responsável pela emissão de carteiras de identidade. Os eleitores cujos dados foram exportados foram orientados pelos mesários a fazerem a leitura da digital, o que nem sempre funcionava. Também foram proibidos de assinar a lista de votação.
O procedimento gerou demora e reclamações, uma vez que a determinação do TRE-RJ era de que fossem feitas quatro tentativas de leituras biométricas.
“Foi um convênio feito com o próprio TSE (Tribunal Superior Eleitoral), para que no futuro seja possível até dispensar o eleitor de comparecer na Justiça Eleitoral para realizar o mesmo cadastramento biométrico”, disse Adriana.
Ainda assim, segundo a diretora do TRE-RJ, a demora também foi causada pelo desconhecimento de alguns eleitores sobre a necessidade de voto em dois senadores, um a mais do que em 2014. Houve mais relatos de atrasos por causa da demora dos próprios eleitores do que por causa da biometria, segundo Adriana Brandão, do TRE-RJ.
Problemas. Conforme mesários ouvidos pelo Estado, a proibição da assinatura para quem teve os dados biométricos exportados do Detran, uma determinação do TRE, também causou problemas. Em uma seção na Tijuca, zona norte do Rio, uma eleitora que não quis se identificar se recusou a votar e afirmou que iria registrar reclamação no TRE. Ela queria assinar a lista de votação, o que não foi permitido, porque teve os dados biométricos exportados. Outra eleitora, que vota na Barra da Tijuca, zona oeste, relatou ter esperado cerca de uma hora na fila. Em Queimados, na Baixada Fluminense, houve relatos de demora de quase duas horas para votar.
No Colégio Santo Inácio, em Botafogo, na zona sul, a espera chegou a ultrapassar duas horas. Uma das filas chegou a 50 metros. “Fiquei duas horas e dez minutos na fila”, lamentou a advogada Vanessa Azevedo, de 28 anos. “Cheguei a pensar em desistir, mas não posso desperdiçar meu voto.”
O professor de História Guilherme Mendes Tenório teve de aguardar 55 minutos na fila. “Não sei qual foi o problema, mas achei estranho terem pedido que eu colocasse a minha digital, pois nem fiz o cadastramento biométrico”, disse.